Money Jungle - Duke Ellington, Charles Mingus e Max Roach (1962)
Filosofia da devoração
“Tendi e tendo cada vez mais para uma filosofia que chamo de filosofia da devoração. A vida é devoração pura e só há uma conduta a seguir: o estoicismo. É verdade que outro conceito da existência divide a humanidade. É o conceito messiânico e salvacionista. Os que se enfileiram debaixo dessa bandeira são os que acreditam que há qualquer coisa a salvar dentro deste mundo ou fora dele. O primeiro pensamento é que presidiu a vida das sociedades primitivas tão superiores às sociedades civilizadas. Estas servem-se do messianismo para criar as servidões do corpo e do espírito e as ilusões de toda espécie” (Oswald de Andrade em uma entrevista para a Manchete, 1954).
Nawã pulitikarã III
"Diz-que que um índio veio a Cruzeiro do Sul montado num cavalo. Um nawa, interessado em cavalos, achou bonito o animal, que mesmo magro era vistoso. Resolveu enganar o índio.
- Txai, me vende teu cavalo, eu te compro ele bem.
- Vendo, meu txai. Vendo por quatro mil cruzeiros.
- Queísso, txai, tá caro.
- Tá caro, né? Então não vendo não.
Então o branco pensou: "vou embebedar esse caboclo, que daí ele vende baratinho".
- Peraí, txai, não vai agora não. Bora tomar uma cahcaça?
- Bora.
E os dois começaram a beber. O branco foi servindo para o índio mais cachaça do que ele próprio bebia. Quando o txai estava bem bêbado, ele voltou a perguntar:
- Então, txai, eu sou teu amigo, eu tô aqui te pagando uma cachaça. Vende teu cavalo pra mim...
- Vendo. Vendo na hora. Vendo por seis mil cruzeiros.
- Mas tá mais caro que antes!! Vende então pelos quatro mil mesmo.
- Vendo nada. Se quiser é seis mil cruzeiros.
- Mas por que?
- Porque eu ia vender meu cavalo pra tomar uma. Agora que eu estou bêbado eu só vendo se for pra comprar um motor".