Há pouco mais de um século, Nietzsche dizia: "mais um século de jornais e todas as palavras vão feder". Acho que estamos bem próximos de cumprir esse vaticínio. Quem de vez em quando dá uma olhada nos grandes jornais, em busca de informações sobre a disputa eleitoral, não pode concluir outra coisa. Especialmente no caso da Folha de São Paulo: à medida que vem chegando o dia da eleição, menor vai ficando o intervalo entre a publicação de um escândalo fabricado e outro. Quase não dá pra entender esse dueto com a Veja, já que, pelo que nos parece, a Folha sempre buscou um público mais intelectualizado, menos afeito a esses arroubos ideológicos da direita (ao menos na aparência). Será que esse pessoal da Folha ainda acredita que é possível virar um jogo mais do que perdido? Além dos de sempre, quem será que a Folha quer favorecer com essa lambança, que arrisca acabar com o jornal? Parece mesmo é que eles chutaram o balde e estão agora dando tiros pro alto. Os chefes da Folha decidiram de uma hora pra outra pular no abismo. Mas se fosse só isso, estaria tudo bem. Ninguém perde muita coisa com o fim da Folha (bem, talvez algumas coisas que andamos colando aqui…). O problema é que antes deles desaparecerem ainda vão dar voz pra baixa política brasileira, engrossando um coro besta que só simplifica os problemas. Como nas duas “reportagens” aí debaixo.
(Obs: engraçado o Bocalom se opor ao “modelo de desenvolvimento sustentável do PT”... Outro dia vimos em uma lanchonete Bobs uma placa dizendo que a obra foi financiada com grana do Banco da Amazônia, como parte dos investimentos governamentais em “desenvolvimento sustentável”. Ficamos pensando: como é possível acreditar que uma lanchonete com um esquema de produção semi-industrial, cujos sanduíches são todos à base de carne bovina e frango de granja, e que vem embalados em isopor e papel plastificado, produzindo muito lixo, é “sustentável”?)
“Campanha amazônica refuta discurso verde
Candidatos criticam ambientalistas e atribuem indicadores sociais ruins a visão da floresta como "santuário"
Especialistas criticam discurso de políticos na eleição e temem que degradação ambiental na região aumente
Se na campanha para presidente Marina Silva (PV) é a militante ecologista, nos Estados da Amazônia há candidatos fazendo campanha cujo lema é a flexibilização de restrições ambientais. Na esteira da discussão sobre o novo Código Florestal, partidos prometem lutar por mais autonomia dos Estados nos licenciamentos. Há ressentimento contra o que chamam de centralização de Brasília e "tecnocratas" que "agem com base no Google".
Vários candidatos culpam os indicadores sociais ruins da região pela visão da mata como "santuário".
A disputa no Acre é o caso mais evidente: uma das maiores coligações tem como nome "Liberdade e produzir para empregar".
Tião Bocalom (PSDB), que disputa o governo, fala que a população "não aceita" o atual modelo de desenvolvimento sustentável "do PT". "Muitos olham a Amazônia e apenas os macacos, as árvores, os bichos e esquecem que aqui tem gente também, que essa gente precisa de qualidade de vida."
Outros mantêm críticas ao mesmo tempo em que adotam o slogan do "desenvolvimento sustentável".
Em Roraima, a revolta tem origem na demarcação de terras indígenas, como a Raposa/Serra do Sol, e de áreas de preservação federais. O governador José de Anchieta Júnior (PSDB), que tenta a reeleição, e seu rival Neudo Campos (PP) acham que isso trava a economia local (leia texto nesta página). Anchieta fala que os países desenvolvidos querem que o Brasil seja a "babá ambiental do planeta".
Em Rondônia, Expedito Júnior, candidato tucano, vai na mesma linha e diz que outros países "acabaram com suas florestas e agora querem interferir" no Brasil. O governador, João Cahulla (PPS), falou num debate que o "agricultor da mão calejada está sendo enrolado pelos ambientalistas".
O candidato do PSDB no Amapá, Jorge Amanajás, que também fala em sustentabilidade e em "pressões internacionais", considera que a candidatura de Marina não "defende da forma que deveria" o desenvolvimento da região. "Não podemos olhar só o lado preservacionista."
"AMAZÔNIA ARRASADA"
Especialistas criticam a visão das campanhas e temem que as ideias se concretizem.
O pesquisador do Imazon Adalberto Veríssimo afirma que essas propostas prejudicam interesses do país.
"O Brasil pode e deve desenvolver a Amazônia sem desmatar. Temos uma área desmatada de três vezes o Estado de São Paulo. É uma parte, inclusive, abandonada. Vamos aproveitar áreas já desmatadas, intensificar a agropecuária lá."
Cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o americano radicado no Brasil Philip Fearnside diz que a liberdade aos Estados "arrasaria a Amazônia". "[Os Estados são] muito mais sujeitos a lobbies de quem vai ganhar diretamente com os desmatamentos", afirma Fearnside, integrante da equipe premiada com o Nobel da Paz por trabalhos sobre mudanças climáticas.”
(no link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1909201036.htm)
“Ser "pulmão do mundo não resolve problema do caboclo", diz Anchieta
O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), 45, foi um dos maiores críticos da demarcação contínua da terra indígena Raposa/Serra do Sol, decidida na Justiça em 2008. Segundo ele, países ricos querem que o Brasil seja "coleção de árvores a ser mantida em pé". Leia trechos da entrevista, feita por e-mail.
Folha - Por que o sr. é contra a criação de novas áreas de conservação no Estado?
José de Anchieta Júnior - Não dá para concordar com o tecnocrata de plantão que risca propostas de criação ou ampliação de reservas no mapa de Roraima tirado do Google. É imperativo que a União reconheça o direito dos roraimenses de destinar parte do território à geração de riquezas. [Uma das propostas de parque] é maluquice e lutaremos contra.
Como o sr. quer fazer o PIB do setor primário crescer 20% sem dano à preservação?
Nossa base agrícola é pequena. O crescimento será baseado no aumento da produtividade por hectare mediante tecnologia adequada.
O sr. pensa que Roraima seja punida com pressões internacionais pela Amazônia?
Essa coisa de pulmão do mundo não resolve o problema do caboclo. Enquanto o Sul-Sudeste encarar a Amazônia como almoxarifado de matéria-prima e Brasília achar que resolve a questão criando unidades de conservação, prevalecerá esse regime de destruição.”
(no link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1909201037.htm)
(a Folha tá perto do fundo do poço. Tão fazendo até propaganda no meio de notícia policial. Olha só essa notícia, pescada no caderno Cotidiano: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/742147-homem-que-esfaqueou-tres-em-mercado-de-sp-foi-contido-meia-hora-apos-ataque.shtml)