O vampiro brasileiro ataca novamente

J. Serra, o vampiro brasileiro, não se cansa de nos surpreender. Mirou na Bolívia e acertou o próprio pé (pra ver os 4 tiros, no Estado de SP: 1, 2, 3, 4).

Dá medo ouvir o Serra, ou ler os "jornalistas" que o apóiam. Parece que a oposição psdbista enlouqueceu. Sobre a atuação do vampiro, concordamos com o Luis Nassif:

"Serra dá o tiro na Bolívia. Aí a Veja aparece com a matéria prontinha, mostrando o perigo boliviano. Daqui a pouco vão ressuscitar os 200 mil guerrilheiros das FARCs que invadirão o Brasil pelo mar. (...)

Onde esse pessoal está com a cabeça? Criaram um mundo circular em que meia dúzia de neocons falam para eles próprios sem se dar conta do entorno. É um autismo assustador. Montam toda uma encenação, articulam aqui e ali, Serra solta o rompante, a Veja repica a matéria (...).

E a Internet inteira olhando aquele bailado louco e se indagando: o que deu neles? Montam toda uma encenação, supondo-a esperta, para um tema que só encontra ressonância em eleitores de ultradireita e nos órfãos de Sierra Maestra.

Em relação ao Mercosul, Serra repete os mesmos discursos dos anos 90, quando questionou o acordo automotivo com a Argentina. Em relação à Bolívia, retrocede ao período da Guerra Fria. Não conseguiu avançar uma análise minimamente diferenciada. É como se tivesse hibernado por 15 anos das discussões nacionais e acordado de repente.

E tudo para garantir o factóide da próxima semana, a próxima chamada de capa de Veja.

O resultado de tudo isso é o suicídio político de Serra. Terminada a aventura das eleições, haverá uma reconstrução da oposição. E, hoje em dia, sobram dúvidas sobre a viabilidade do PSDB de continuar comandando as oposições. As loucuras desse estilo neocon desvairado, a truculência nos ataques a adversários e a aliados, o uso de jornalistas cúmplices para atacar colegas, não apenas comprometeram a eleição de Serra, mas a própria viabilidade do PSDB como líder da nova oposição."

Nasceu no meu jardim mais um pé de manacá.

Nasceu no meu jardim mais um pé de manacá.
Foi no dia 26/05/2010, às 14:30. Ela pesa 3,5 kg e tem 49 cm.

A querela das terras de quilombos, por Manuela Carneiro da Cunha

Quem está limitando o acesso às terras a “quem quer produzir” não são os quilombolas, e sim a parte mais atrasada da pecuária

Está de volta, como de hábito às vésperas de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, uma velha campanha. Segundo seus promotores, as terras que são destinadas a quilombos (desta feita, é delas que o Supremo vai tratar), a índios e a unidades de conservação diminuiriam ainda mais o já pequeno território brasileiro acessível a “quem quer produzir”.

Como, entre essas terras subtraídas a “quem quer produzir”, são também contabilizadas as cidades, conclui-se que esses promotores desejam transformar o Brasil numa grande fazenda. Voltaríamos às capitanias hereditárias?

Mas olhemos mais de perto. Analisando as áreas de conservação ambiental e as áreas indígenas, o Ipea, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, publicou, em dezembro de 2009, um estudo cujo título já diz tudo: chama-se “Unidades de Conservação e o Falso Dilema entre Conservação e Desenvolvimento”.

E, para quem acha que há áreas de conservação demais no Brasil, lembra que percentualmente à nossa parte do bioma floresta amazônica, estamos bem atrás de Venezuela, Colômbia, Equador e Bolívia.

Segundo a análise que o IBGE faz do último Censo Agropecuário, a concentração de terras pouco se alterou entre 1985 e 2006: a pequena propriedade rural, menor do que 10 hectares, que representa quase metade do número de propriedades, ocupa 2,7% da área total de estabelecimentos rurais.

No outro extremo, a grande propriedade, aquela acima de mil hectares, ocupa 43%. Se esta é mais rentável no absoluto, a pequena propriedade é mais racional no uso da terra e proporciona uma melhor distribuição de renda.

Não só também “produz”, mas sabe-se que ela é quem garante a segurança alimentar no Brasil.

Mas vejamos como se distribui, quanto a terras, o agronegócio.

O professor Gerd Sparovek, da Escola Superior de Agricultura da USP, de Piracicaba, desenvolveu pesquisas com colaboradores brasileiros e suecos, que serviram para que a associação brasileira da indústria da cana-de-açúcar defendesse, diante da União Europeia, a compatibilidade da expansão do cultivo da cana com os compromissos ambientais do país.

Em um artigo publicado em 2007, Sparovek e seus colaboradores relembram que quem se apropria da maior parte das terras cultiváveis brasileiras é a pecuária.

Um estudo de 2003, de Cardille e Foley, mostrou que, entre 1980 e 1995, dos 25 milhões de hectares deflorestados, 54% tinham sido convertidos em pastos, e só 7% serviam para cultivo. Em 1995, a pecuária ocupava 73% do espaço agrícola.

A criação de gado bovino, essa grande responsável pelo desmatamento na Amazônia, continua sendo feita de maneira extensiva, com uma densidade inferior a um boi por hectare!

Segundo o IBGE, o gado confinado ou semiconfinado não passava de 2,5% do total de gado em 2005.

O subsídio implícito da grilagem de milhões de hectares na Amazônia torna mais rentável, como mostrou o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), a criação extensiva do que o confinamento ou semiconfinamento. Mas rentável não equivale a racional.

Quem está limitando o acesso às terras a “quem quer produzir” não são, portanto, os índios, os quilombolas, as unidades de conservação e a pequena propriedade rural, e sim a parte tecnologicamente mais atrasada e predatória da pecuária.

O resto é conversa para boi dormir, ou melhor, para influenciar o Supremo.

(Manuela Carneiro da Cunha, na FSP, Tendências e debates, 26/05/10)

Extrayendo Vida



La extracción de recursos naturales en Latinoamérica es una actividad en auge y foco de numerosos conflictos. Ante el poder económico de las transnacionales y la complicidad de los gobiernos locales, la población campesina y los pueblos indígenas son quienes más sufren las consecuencias de las empresas mineras, petroleras, madereras, hidroeléctricas. Guatemala y Ecuador son dos de los países afectados por esta situación. Pero a su vez, son foco de resistencia cada vez más organizada y fuertemente encabezada por los pueblos indígenas frente la explotación a gran escala de los recursos naturales.
Link: http://www.albasud.org/video.php?id=13

Escola Huni Kuin

Professor Alberto Kaxinawá em sua escola.

Entrevistas do FHC e do Lula

Em ano de eleição é divertido acompanhar essas coisas:
São duas entrevistas feitas há mais tempo, pelo mesmo repórter e no mesmo programa da BBC. O papel do repórter é ser algo entre mala e desrespeitoso, pra ver como o entrevistado reage (é um programa behaviorista).

Entrevista do FHC:
http://www.youtube.com/watch?v=HDN2yVEqYnk
http://www.youtube.com/watch?v=wmjXqQ_rwiM

Entrevista do Lula:
http://www.youtube.com/watch?v=wIDQK6ez_XA
http://www.youtube.com/watch?v=9ENz9yyL9BA
http://www.youtube.com/watch?v=-9jTW5G3ic8

(acho que o serra teria um infarto numa entrevista dessas...)

THE REAL THING

Da pesada:
DIZZY GILLESPIE - THE REAL THING - 1970
Pra baixar: http://sharebee.com/07484be9

"A ciência não é um deus que sabe tudo"

"O líder ianomâmi Davi Kopenawa disse estar "muito contente" com a notícia de que as mais de 2.000 amostras de sangue de seu povo, que desde 1967 repousam em centros de pesquisa dos Estados Unidos, serão devolvidas à tribo. Conforme a Folha adiantou no último domingo, há um acordo sendo finalizado entre cinco universidades e o governo brasileiro para a devolução, que ainda não tem data.
Da Alemanha, onde está para assistir a uma ópera que tem seu povo como protagonista, o líder indígena respondeu por e-mail, por intermédio do antropólogo Bruce Albert, a perguntas feitas pela reportagem. (CA)

FOLHA - Como o sr. recebeu a notícia de que as universidades aceitaram devolver o sangue?
DAVI KOPENAWA YANOMAMI
- Foi uma luta de dez anos. Agora, fiquei muito contente que os brancos acabaram entendendo a importância desse retorno.

FOLHA - O sangue foi coletado nos anos 1960, mas só nesta última década os ianomâmis começaram a se esforçar para tê-lo de volta. Por quê?
KOPENAWA
- O sangue foi tirado do nosso povo quando eu era menino. Os cientistas não explicaram nada direito. Só deram presentes, panelas, facas, anzóis e falaram que era para coisa de saúde. Depois todo mundo esqueceu. Ninguém pensou que o sangue seria guardado nas geladeiras deles, como se fosse comida! Só em 2000 que eu soube que esse sangue estava ainda guardado e sendo usado para pesquisa. Aí me lembrei da minha infância, e os velhos também se lembraram de que nosso sangue foi tirado. Todo mundo ficou muito triste de saber que esse sangue nosso e de nossos parentes mortos ainda estava guardado.

FOLHA - Napoleon Chagnon e James Neel agiram errado com vocês?
KOPENAWA
- Eu acho que estavam muito errados, porque eles pensaram que os ianomâmis podem ser tratados como crianças e não têm pensamento próprio. Não dá para fazer pesquisa com povos indígenas sem explicação. Pesquisa que interessa à gente é para melhorar nossa saúde. Não dá para pesquisar e deixar a gente depois morrer de doenças. Um tempo depois que esses cientistas foram embora, em 1967, morreu quase todo o meu povo do Toototobi de sarampo.

FOLHA - Por que o sangue será jogado no rio quando ele voltar?
KOPENAWA
- Vamos entregar esse sangue do povo ianomâmi ao rio porque o nosso criador, Omama, pescou sua mulher, nossa mãe, no rio no primeiro tempo. Mas não gosto da palavra "jogar", não vamos jogar o sangue dos nossos antigos; vamos devolver para as águas.

FOLHA - Os cientistas dizem que, sem poderem estudar o sangue e o DNA de vocês, informações que podem ser preciosas para toda a humanidade se perderão para sempre. Como o sr. reage a essa crítica?
KOPENAWA
- A ciência não é um deus que sabe tudo para todos os povos. Se querem pesquisar o sangue do povo deles, eles podem. Quem decide se pesquisas são boas para nosso povo somos nós, ianomâmis."

(FSP, caderno Ciência, 12/05/2010)

¿Qué coño de capitalismo era ese?

"Cuando entré en el Gobierno, Brasil no tenía crédito, no tenía capital de trabajo, ni financiación, ni distribución de la renta. ¿Qué coño de capitalismo era ese? Un capitalismo sin capital. Resolví entonces que era preciso primero construir el capitalismo para después hacer el socialismo; hay que tener qué distribuir antes de hacerlo. Si el país no tiene nada, no hay nada que distribuir, y los empresarios tienen que saber que hay que pagar salarios un poco mayores para que la gente pueda comprar los productos que fabrican. Esto ya lo decía Henry Ford en 1912" (Lula no El País, 09/05/2010).

Tá certo que tá no El País, mas "construir o capetalismo pra depois fazer o socialismo"? Será que o Lula acredita mesmo nisso? (Longe de nós criticar o Lula em época de eleição). Mas a frase é interessante - e assustadora - , porque parece sintetizar a desculpa do PT-em-campanha-da-Dilma pra o seu desvio de centro-direita... (tipo a frase da Dilma: "quando o Brasil mudou, eu mudei, mas nunca mudei de lado").

ps: E o inacreditável Vampiro Brasileiro disse na Folha do dia 01/07/2010 que "nós temos que estatizar o Estado brasileiro. Nós temos que estatizar as agências reguladoras. Elas foram apropriadas por setores privados, partidos políticos, sindicatos." (em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/760259-tem-que-ser-uma-coisa-discreta-diz-serra-a-vice-sobre-amantes.shtml).
Ahãm... tá bom...

Dossiê do NAPP sobre a campanha da Veja contra os direitos territoriais

Para aqueles que ficaram estarrecidos com a publicidade direitosa do panfleto "Veja" e que desejam acompanhar a reação à matéria A Farra da Antropologia Oportunista:

http://sites.google.com/site/nappufrrj/dossies/revista-veja

Acelerador de gente


A o visitar o LHC (Grande Colisor de Hádrons) em abril de 2008, o físico escocês Peter Higgs pôde contrastar sua dimensão humana com a escala gigantesca da maior máquina já construída pela humanidade.
Se a hipótese de Higgs estiver correta, os dados que começaram a jorrar nas últimas semanas do LHC fornecerão a última peça no quebra-cabeças do modelo padrão, a teoria da física que explica a matéria. Mas a saga do LHC é resultado do trabalho de gerações de pesquisadores, cujos nomes finalmente se diluirão na "simbiose homem-máquina" de um novo paradigma, pela primeira vez realmente global, de cooperação cientifica.
Para Karin Knorr Cetina, professora de sociologia do conhecimento da Universidade de Konstanz, Alemanha, o experimento é, antes de tudo, um "laboratório humano" numa escala sem precedentes na história da ciência moderna.
Cetina passou 30 anos observando os pesquisadores do Cern (Centro Europeu de Física Nuclear), laboratório na Suíça que abriga o LHC, numa espécie de estudo "etnológico" da tribo dos físicos, seus usos e costumes. Segundo ela, noções tradicionais na ciência, como carreira, prestigio e autoria, deixam de ter qualquer significado no modelo de produção de conhecimento do Cern.
Da Universidade de Chicago, EUA, onde é pesquisadora visitante, Cetina falou à Folha:


FOLHA - O que há de novo na forma de produzir conhecimento no Cern, e como isso se compara com as humanidades?
KARIN KNORR CETINA - O novo é a dimensão, a duração e o caráter global do experimento. A estrutura dos experimentos é um experimento em si mesmo, com um caráter antecipatório de um tempo global e de uma sociedade do conhecimento.
Poderíamos, talvez, fazer uma comparação com aquele espírito arrojado e inovador no desenvolvimento do supersônico Concorde nos anos 1960, que sinalizou uma ruptura de época. Mas não se pode responder com uma simples frase ao "como" esse experimento é coordenado.
Há muitos mecanismos particulares que sustentam o projeto e o transformam numa espécie de "superorganismo", na íntima colaboração de mais de 2.000 físicos com o gigantesco LHC, que eles mesmo projetaram e no qual, finalmente, trabalham juntos.
Um mecanismo muito importante são as publicações coletivas em ordem alfabética. Quem é privilegiado não é o "gênio", o autor, ou pesquisadores destacados em suas áreas. Um outro mecanismo é que o experimento mesmo, e não os autores, é "convidado" para as conferências internacionais.
Os atores individuais são apenas os representantes daquilo que produziram em conjunto. Um outro mecanismo é que os participantes se encontram, por exemplo, durante toda uma semana no Cern, e esses encontros são organizados de tal maneira que todos possam e devam ser informados sobre tudo que ocorre. Estabelece-se, assim, uma espécie de consciência coletiva do "conhecimento compartilhado".
Como poderíamos comparar isso com as ciências humanas? Alguns diagnósticos de época importantes, de historiadores e filósofos, por exemplo, ainda encontram ressonância na opinião pública, mas, infelizmente, a estrutura e a segmentação da pesquisa nesse campo do conhecimento não tem mais nada de interessante a oferecer. A sociologia tradicional não sinaliza mais para a frente.

FOLHA - Depois de muitos anos de pesquisa de campo em laboratórios como uma etnógrafa da ciência, como se diferenciam as culturas científicas diante do papel do indivíduo?
CETINA - A biologia molecular, que acompanhei por muitos anos, é uma ciência "de bancada", na qual, por regra, poucos pesquisadores trabalham juntos, na qual também se produz e publica em coletivo, mas não em ordem alfabética. O papel do pesquisador individual ainda permanece importante.
Isso leva, como sabemos, a conflitos em torno de autoria e quem está em que posição na publicação. A física de altas energias procura, em contrapartida, liberar a cooperação, na qual é o conjunto que está no ponto central. O fio condutor não é mais a carreira, mas o resultado cientifico. O acelerador é o elemento dominante, pois ele somente pode ser construído e avaliado por muitos.

FOLHA - Seria a natureza mesma do projeto incompatível com um novo "insight" individual que poderia mudar tudo de forma imprevisível?
CETINA - É bem mais provável, no caso do Cern, que a pesquisa em equipe deva produzir excelentes resultados empíricos. Muitos pesquisadores em sociologia e nas humanidades, de maneira geral, produzem resultados parciais, fragmentados, que não se agregam dentro de um sistema numa perspectiva cumulativa -não porque a natureza do social seja fragmentada, mas porque nossa maneira de conduzir pesquisas, nossas convenções de pesquisa, não se agregam.
Em muitas ciências empíricas devemos investigar no processo cooperativo -já que na natureza todas as partes de uma sistema se interrelacionam- ou todo o sistema ou saber qual é, realmente, a parte central desse sistema que deve ser isolada e destacada. Esse reducionismo experimental não pode ser levado a cabo na ciência social por motivos éticos, por se tratar de pessoas em sua integridade, que não podemos reduzir a células de cultura. Para tanto, seria necessário muito mais cooperação e pesquisa.
(Na Folha de São Paulo do dia 02/05/2010, Caderno Ciência)