Funk-rock africano

Rikki Ililonga  Musi O Tunya Dark Sunrise

DOWNLOAD: RIKKI ILILONGA & MUSI-O-TUNYA

- DARK SUNRISE - 1973~1976 - 320 Kbps -
CD1: http://www.megaupload.com/?d=RRIDHQNM
CD2: http://www.megaupload.com/?d=FLEZHC4Q

Via http://republicadefiume.blogspot.com/

Você duvida da merda que eles estão fazendo no Madeira?

No EcoAmazônia:
(no canto esquerdo, no meio da tela, tem um botão verde: clique encima dele e arraste-o pra direita...)

 

"De volta ao leninismo?"

Na Folha de S.P. de hoje:


RUBENS RICUPERO

De volta ao leninismo?


Essência era concepção do desenvolvimento como a acumulação material sem preocupação com efeitos


O PACOTE DE afrouxamento das regras para licença ambiental preparado por Brasília justifica indagar se o novo governo estaria voltando ao célebre lema leninista: "o comunismo são os sovietes mais a eletrificação".
Não me refiro, é claro, ao defunto comunismo e aos olvidados sovietes. A essência do lema era a concepção simplista do desenvolvimento visto como mera acumulação material de obras sem preocupação com os efeitos sobre as pessoas ou a natureza.
O resultado dessa mentalidade foi converter a finada União Soviética no maior canteiro de destruição ambiental do planeta, da secagem do Mar de Aral à explosão da usina nuclear de Chernobyl.
O comunismo e os sovietes acabaram há muito tempo. Já os danos ambientais provaram ser irreversíveis, constituindo, ao lado dos milhões de vítimas do stalinismo, testemunho imperecível da loucura bolchevista. Estarão destinados a esse triste papel os elefantes brancos que desejamos construir a toque de caixa e sem incômodas cautelas ambientais?
Planejado para produzir "choque de gestão ambiental", o pacote é apresentado como fruto do razoável desejo de reduzir custos e exigências excessivas. Se for só isso, não haverá o que dizer. Mas então por que introduzir as mudanças por decretos cozinhados no segredo de gabinetes acessíveis apenas aos lobbies econômicos?
O atual governo e o maior partido de sua base de apoio se orgulham de defender a democracia participativa. Por que motivo ela não valeria para tema tão sensível como o do impacto das grandes obras sobre as tribos indígenas e a natureza?
Que razões haveria para temer audiências públicas com a participação de especialistas capazes de submeter as modificações propostas ao crivo da ciência e da razão?
Pode haver exageros em certas exigências ambientais. Nesse caso é preciso examinar se o motivo está na insuficiência de recursos humanos e materiais dos órgãos de licenciamento ou em atitudes sem justificativa científica e técnica.
Acaso nós dispomos desse diagnóstico? Há consenso mínimo entre estudiosos acerca das raízes do problema?
A preocupação pode parecer exagerada e prematura. Temos razões de sobra, porém, para desconfiar de medidas anunciadas como pacotes e choques, haja vista o saldo de desastres que tal abordagem produziu na área econômica.
Tampouco se deve falar aqui em abrir crédito de confiança a governo novo. Primeiro porque, longe de serem novos, os personagens em evidência são os mesmos que em passado recente se celebrizaram pelos conflitos responsáveis pela demissão da ministra Marina Silva e inúmeros respeitados técnicos, o último deles o presidente do IBAMA sacrificado semanas atrás.
Em segundo lugar porque os dois projetos emblemáticos de tudo o que é irracional e predatório no falso desenvolvimentismo -Belo Monte e o trem-bala- continuam impávidos na trajetória para se juntarem aos demais escombros que povoam nosso cemitério de elefantes.
A não ser que a razão real de tais projetos absurdos seja a cupidez dos caçadores de comissões. O que levava o saudoso Mario Henrique Simonsen a suspirar: "É melhor em certos casos pagar a comissão e não fazer o projeto"!

 

Cocalero (Alejandro Landes - 2007)

Documentário sobre a eleição de Evo Morales e o movimento cocalero na Bolívia (uma espécie de Entreatos boliviano...). Pra baixar: http://www.megaupload.com/?d=TZ7ZGC5A.

Cocalero0701(via http://filmespoliticos.blogspot.com/)

"Tribo nômade no Maranhão enfrenta madeireiros e colonos"

Awá

Índio Awá no cenário de destruição de suas florestas

"Relatório da Fundação Nacional do Índio (Funai) revela que a tribo nômade Awá, no Maranhão, foi a mais afetada em 2009 com desmatamento de territórios indígenas na Amazônia Legal.

A organização Survival International obteve o relatório e o classificou de “chocante”. Segundo a organização, baseada em Londres, cerca de 60 a 100 Awá conseguiram permanecer isolados, mas o seu último refúgio está sendo destruído.

Leia mais:

Índios realizam protesto para provar que existem

Índios sem contato fogem dos madeireiros no MA

O território Awá tem sido invadido por enorme afluxo de madeireiros e colonos, mas praticamente nada foi feito para retirá-los, apesar das autoridades estarem cientes de suas identidades.

O relatório mostra que 31% da floresta no território Awá foi derrubada ilegalmente. A tribo vive em três das cinco áreas indígenas que mais sofreram desmatamento em 2009 – o último ano para o qual as estatísticas são disponíveis.

Existem cerca de 360 Awá contatados, que vivem em diversas comunidades. Imagens de satélite mostram que o desmatamento no Maranhão aumentou muito nas últimas duas décadas e agora está ocorrendo próximo ao local onde índios isolados foram avistados.

- Os madeireiros vão acabar com toda a área. A área é índio. Fico com raiva com os madeireiros.. raiva mesmo. Acabou toda a caça, e os meus filhos passam fome - disse o índio Pire’i Ma’a a Survival.

Os Awá estão ameaçados pela exploração madeireira e o desmatamento. Alguns pararam totalmente a prática da caça, pois se sentem ameaçados pelos madeireiros ilegais que trabalham nas proximidades.

Há duas semanas, o seriado Planeta Humano, da BBC, mostrou mulheres Awá cuidando e amamentando filhotes de macacos órfãos. Um antropólogo brasileiro disse que a tribo enfrenta um genocídio.

Em janeiro, um funcionário da Funai declarou no programa Fantástico, da TV Globo, que “se não houver ação rápida e emergencial, o futuro desse povo é a extinção”.

Os impactos devastadores do desmatamento sobre os Awá será destaque no programa da BBC The Chinese are Coming (Os chineses estão vindo), que será exibido pela BBC nesta terça-feira (15), na Inglaterra.

Como uma tribo de caçadores-coletores, uma das duas únicas tribos nômades remanescentes no Brasil, os Awá dependem totalmente da sua floresta para sobreviver. Muitos deles morreram em massacres brutais nas mãos de fazendeiros e madeireiros.

O contato entre esses índios e os invasores pode ter efeitos devastadores, pois os índios apresentam baixa resistência a doenças externas. A legislação brasileira exige que a terra Awá seja protegida para os índios, mas as autoridades falharam em agir.

- Estamos assistindo a uma tragédia se desenrolando diante dos nossos olhos – e a causa da mesma é simplesmente um fracasso total das autoridades do Brasil para defender a lei e proteger o território Awá - disse o diretor da Survival, Stephen Corry."

O debate num jornal de hoje.

Na Folha de SP de hoje:

São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011


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TENDÊNCIAS/DEBATES
Os esforços do governo para construir a usina de Belo Monte devem ser mantidos?

SIM

A razão das hidrelétricas

LUIZ PINGUELLI ROSA

O setor elétrico brasileiro está sob duplo bombardeio na mídia.
Têm ocorrido quedas de energia elétrica com frequência acima do normal. Não há falta de capacidade instalada, como no racionamento de energia em 2001. Na época, faltaram investimentos para expansão do sistema; hoje, o problema está na transmissão e na distribuição.
Por outro lado, os ambientalistas criticam a construção de Belo Monte. No fundo, a questão não é Belo Monte, mas fazer ou não hidrelétricas de potência significativa, em particular na região Norte, onde está a floresta amazônica, foco de justas preocupações ambientais.
Está na região Norte a maior parte do potencial hidrelétrico do Brasil, que possui os maiores recursos hídricos do planeta: 8,2 km3/ano, seguido da Rússia, com apenas 4,5, e do Canadá, com 2,9. Apesar disso, ficamos em quarto lugar em capacidade instalada de hidrelétricas, atrás de China, EUA e Canadá.
Usamos apenas cerca de 30% do potencial hidrelétrico nacional, percentual este que supera 70% na Noruega, seguida de perto por Japão, Canadá e EUA. Entretanto, a hidroeletricidade representa 85% da nossa geração elétrica, só superada pelo Paraguai e pela Noruega.
Deve o país abrir mão de utilizar essa energia? Creio que não. Mas não pode fazê-lo a qualquer preço.
Devem ser cumpridas as restrições ambientais necessárias.
O preço da energia de Belo Monte é de R$ 68/MWh, enquanto nas termelétricas novas é de R$ 140/MWh, e há antigas que chegam a R$ 400/ MWh quando operam em caso de escassez de água nas hidrelétricas.
O investimento previsto é de R$ 20 bilhões, definidos no leilão, embora documento do consórcio vencedor fale agora em R$ 26 bilhões, pretendendo vender 20% da energia para consumidores livres a preço maior. Aí está um problema a ser resolvido pelo consórcio, pois deverá ser obrigado a manter o preço de R$ 68/MWh para a rede pública.
A área inundada se restringe praticamente àquela que o rio já ocupa na sua variação sazonal. Ela tem 516 km2, bem menor que Itaipu, com 1.300 km2. A usina de Balbina tem 0,1 W/m2 e Tucuruí tem 2,9 W/ m22: Belo Monte terá 21 W/m2.
Mas há um problema, que é a redução da água na Volta Grande do Xingu, o que preocupa moradores ribeirinhos. A solução é garantir uma vazão mínima.
Não haverá reservatório para acumulação, como fazem as hidrelétricas antigas do sistema interligado. Para reduzir os impactos, perdeu-se a capacidade de regularizar a vazão, reduzindo a energia assegurada. A potência máxima de Belo Monte é de 11 GW e a média é de 4,6 GW. A relação desses dois valores dá o fator de capacidade de 42%, bem menor que os de Jirau e de Santo Antônio.
Entretanto, em geral, as hidrelétricas brasileiras têm fator de capacidade pouco acima de 50%. Esse fator é de, em média, 21% nas hidrelétricas na Espanha, de 32% na Suíça, de 35% na França e no Japão, de 36% na China e de 46% nos EUA.
A operação de Belo Monte não pode ser vista isoladamente, pois ela estará no sistema interligado, no qual há transmissão de energia de uma região às outras.
Quando Belo Monte gerar 11 GW, ela vai economizar água em reservatórios de outras usinas, que reduzirão sua geração. E essa água guardada permitirá gerar energia adicional nessas usinas.
É natural que os ambientalistas pressionem o governo. Apoiei a então ministra do governo Lula, Marina Silva, quanto às exigências impostas para as usinas do rio Madeira. No final, chegou-se a uma solução para o licenciamento de Jirau e de Santo Antônio pelo Ibama.
Há anos, obras como a de Tucuruí produziram impactos muito grandes. O canteiro de obra causou uma concentração de pessoas abandonadas à própria sorte após a obra. Isso tem de ser evitado.

LUIZ PINGUELLI ROSA 68, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi presidente da Eletrobrás (2003-2004).


São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011


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TENDÊNCIAS/DEBATES
Os esforços do governo para construir a usina de Belo Monte devem ser mantidos?

NÃO

O futuro da energia no retrovisor

MARCELO FURTADO

O Brasil precisa de energia para seguir crescendo. Mas não precisa de Belo Monte. Um estudo do Greenpeace lançado em novembro, o (R)evolução Energética, mostra que o país pode suprir suas necessidades energéticas investindo em fontes de geração renovável, como a eólica e a solar, e dispensando a construção de megahidrelétricas na região da Amazônia.
Em 2050, mostra o estudo, o Brasil pode ter uma matriz elétrica com 93% de participação de energias renováveis, eliminando completamente a geração à base de carvão, de diesel e a geração nuclear.
O cenário energético de nosso estudo custa, pasmem, R$ 88 bilhões a menos do que o proposto pelo governo para os próximos 40 anos.
Ele indica também que a aposta nas renováveis não é apenas mais barata. Ela geraria 1,2 milhão a mais de empregos e produziria seis vezes menos emissões de gases do efeito estufa em comparação aos planos da burocracia federal. Com tantas vantagens, por que ainda estamos investindo em grandes hidrelétricas na Amazônia?
A construção de Belo Monte provocará um desmatamento de 12 mil hectares, a movimentação de 230 milhões de metros cúbicos de terra -mais do que na obra do Canal do Panamá- e a abertura de 260 quilômetros de estradas no canteiro de obras. Terminada a obra, a usina obrigará ainda a remoção forçada de 20 mil pessoas.
Os efeitos negativos sobre a biodiversidade e os indígenas que dependem do rio Xingu estão evidentes na relutância do Ibama em licenciar a usina de Belo Monte.
Apesar de tantos questionamentos, Lula declarou que faria Belo Monte "na lei ou na marra". A presidente Dilma escolheu o segundo caminho, constrangendo o Ibama a conceder uma autorização para a instalação do canteiro de uma obra que ainda está para ser licenciada.
Se, do ponto de vista socioambiental, a construção de Belo Monte tem tudo para ser um desastre, do ponto de vista econômico ela também não faz sentido.
As obras civis vão custar R$ 15,6 bilhões. Com esse número, oficial, fica difícil acreditar que o valor final do projeto será de R$ 25,8 bilhões, como recentemente anunciado. Há um ano, o valor da obra estava em R$ 19 bilhões. Não houve, nos últimos 12 meses, uma inflação capaz de justificar tamanho salto de preço.
A discussão sobre Belo Monte não é sobre a tecnologia de geração hidrelétrica, mas sobre o tamanho da obra e sua localização. O modelo proposto pelo Greenpeace dialoga com o Brasil de hoje e do futuro, propondo uma expansão da geração energética a partir de fontes como a solar, a eólica, PCH (pequenas centrais hidrelétricas) e biomassa.
Essas fontes, particularmente biomassa e a eólica, são capazes de trazer a segurança energética que o país precisa ao longo do ano, uma vez que garantem o suprimento justamente nos meses de seca, em que a geração das hidrelétricas é muito mais baixa.
Belo Monte terá geração extremamente variável ao longo do ano e vai apenas repetir esse padrão, que contribui para o deficit de energia nos meses secos, remediado com o acionamento de termelétricas movidas a combustíveis fósseis.
O Brasil tem tudo para ser a nação com a matriz elétrica mais limpa do planeta. Belo Monte é sinal de que o governo não busca o futuro.
Quer apenas perpetuar o passado, lavando as mão em relação à nossa geração e às que estão por vir.

MARCELO FURTADO é diretor-executivo do Greenpeace no Brasil.

"Direito à não-vizinhança"

Artigo do sertanista José Carlos Meirelles, no Estadão:

"Nas cabeceiras dos Rios Acre, Iaco, Chandless, Purus, Envira,Tarauacá, Jordão, Juruá, Madeira, Tauhamanu, De Las Piedras e Madre de Dios, nas terras que nunca alagam devido à proximidade da Cordilheira dos Andes, habitavam inúmeros povos indígenas, em sua grande maioria pano e aruaque.

Gleison Miranda/Divulgação

As aldeias eram construídas longe da calha dos rios maiores, nas cabeceiras de pequenos igarapés, isentos das nuvens de piuns, catuquis e carapanãs, que infestam as margens das cabeceiras dos grandes rios de água branca. Criou-se ali uma cultura de terra firme, de caçadores que tinham mais intimidade com a mata do que com os rios, de povos que não usavam canoas, que só cruzavam os rios na época da seca, limitando sua ocupação territorial na época das chuvas.

A maioria desses índios usava o caucho, um elastômero retirado da árvore do mesmo nome, para criar artefatos. A descoberta pelo homem branco dessa matéria-prima modificou radicalmente a vida dos índios. Os caucheiros utilizaram grupos contatados, principalmente os ashanincas, para expulsar e matar todos os grupos que encontravam.

Pelo lado brasileiro, as empresas seringalistas subiam os rios se estabelecendo, expulsando e matando os índios. Essa compressão das empresas caucheiras e seringalistas foi um dos processos mais brutais de extermínio de povos de que se tem notícia.

Então como é possível que ainda hoje existam povos isolados nessa região? Um conjunto de fatores pode explicar essa condição rara. Um dos mais significativos é que, após a 2ª Guerra, o preço da borracha caiu ano após ano, até que no final da década de 60 e na de 70 grande parte dos seringais foi vendida a grupos agropecuários do sul. As fazendas que se instalaram nos altos rios fracassaram. A guerra aos povos isolados termina por falta de financiamento: ninguém fornecia armas nem pagava nada para se matar índios.

Livres das ameaças, eles iniciam a retomada dos territórios. Mas encontram, fixados neles pelas empresas seringalistas, índios que usam roupa, espingarda e moram em casas como os antigos invasores brancos.

Os conflitos entre eles se acirraram em 86 e 87. O fato gerou reivindicação dos caxinauás, do Rio Jordão, e ashanincas, do Envira, à Funai para a criação de uma frente de atração visando a "amansar os brabos" e pôr fim aos conflitos. Em 1988 a Funai criou o Departamento de Índios Isolados, que traçou uma política para esses povos. Essa política se resume a protegê-los em seus territórios, sem nenhum contato. Foi criada a Frente de Atração Rio Jordão - renomeada Frente de Contato Envira e, a partir de 1997, Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira - para pôr fim aos conflitos envolvendo povos isolados e os índios caxinauás, madijás, ashanincas e brancos do entorno. Os atritos foram controlados quando os ashanincas, culinas e caxinauás entenderam que os "parentes brabos" tinham o direito de continuar isolados.

A inovação da nova política indigenista dá-se em função de a Funai regularizar terras para os povos isolados sem contatá-los. Nas cabeceiras do Envira e do Tarauacá existem três terras indígenas para povos isolados: Kampa e Isolados do Envira, Alto Tarauacá e Riozinho do Alto Envira, todas demarcadas e regularizadas, somando 638.384 hectares.

Acompanhei por 22 anos a política de proteção a esses povos e posso dizer que, no mínimo, sua população dobrou. Estão sadios, com os territórios preservados e grandes roçados. Trocaram o machado de pedra, o facão de pupunha e a panela de barro por machado de ferro, facão de ferro e panela de alumínio. Querem algumas de nossas tecnologias, mas se recusam, sabiamente, a ter contato conosco desde o início do século 20, quando viram os primeiros seringueiros.

Infelizmente, nos últimos anos, a Amazônia peruana nas cabeceiras dos Rios Madeira, Purus e Juruá vem sofrendo um processo brutal de ocupação desordenada e ilegal com extração de madeira nobre, garimpo, exploração de petróleo e plantio e refino de coca, todas essas atividades também em terras de índios isolados, existentes no Peru.

Essa ocupação desordenada tem provocado a migração de grupos isolados do Peru para o território brasileiro. A fronteira entre os dois países nada significa para eles. Mas as fronteiras entre eles existem e são por eles reconhecidas. Com certeza um novo reordenamento territorial deve estar ocorrendo. Pacifica ou belicosamente.

Toda a interferência, medo e espanto que os sobrevoos devem ter provocado nos isolados sejam a mim creditados. A iniciativa de mostrar imagens desses povos ao mundo foi na tentativa de sensibilizar a opinião pública para o fato de que eles existem e que o seu futuro, como os últimos povos livres deste planeta, depende de nós. A velha máxima amazônica ainda é bem atual: "Índio brabo que ninguém vê é boato"."

Filmagem dos isolados do Alto Envira, da BBC / Survival International (ou: o aparelho de captura se esticando...)


"Após três anos, desmatamento volta a crescer"

Também na F.S.P.:
"O desmatamento na Amazônia cresceu 10% entre agosto e dezembro de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009.
Os dados foram divulgados na terça pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com base em imagens de satélite do sistema Deter, que flagra o desmatamento em tempo real. É a primeira vez desde o fim de 2007 que uma série parcial de dados do Deter indica subida no corte raso na floresta.
Foram 1.236 quilômetros quadrados desmatados entre agosto e dezembro de 2010, contra 1.145 quilômetros quadrados no período anterior. "Isso mostra que eles continuam cortando. Não tem como relaxar ou parar de fiscalizar", disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.
Ele afirma, porém, que não é possível falar de reversão da tendência de queda.
O ano, excepcionalmente seco, com poucas nuvens, também permitiu enxergar desmatamentos mesmo durante a estação chuvosa, que começa em novembro.
O atual inverno amazônico está bastante chuvoso -em dezembro, por exemplo, só foi possível observar 28% da região, área que estava livre de nuvens.
Uma nova fronteira de devastação se consolida: o triângulo formado pelo sul do Amazonas, sob influência da rodovia BR-319, o norte de Rondônia e o leste do Acre."

"Amazônia teve pior seca em cem anos"

Saiu na F.S.P:

"Árvores mortas pela seca de 2010 podem liberar quantidade de CO2 semelhante às emissões dos EUA, diz estudo

Até agora, seca de 2005 tinha sido a pior; se mal interpretados, dados estimulam o desmate, diz cientista do Inpe

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A seca de 2010 da Amazônia foi a pior dos últimos cem anos. E a quantidade de CO2 emitido pelas árvores mortas pode ser parecida com as emissões dos EUA.

As constatações são de estudiosos britânicos (da Universidade de Leeds) e brasileiros, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Eles publicaram um artigo na revista "Science".

O grupo de pesquisadores, liderado pelo britânico Simon Lewis, mostrou que a seca de 2010 foi mais intensa e afetou uma área maior que a estiagem de 2005 -até então considerada recorde em várias décadas.

No ano passado, uma área de 3 milhões km2 foi atingida pela estiagem, contra 1,9 milhão km2 em 2005.
Os cientistas fizeram um cálculo do desvio da média de chuvas comuns nas estações secas da Amazônia (chamado de desvio padrão).

"A intensidade da seca foi maior em 2010 em relação à média", explica o biólogo Paulo Brando, do Ipam, um dos autores do trabalho.

A segunda parte do estudo, explica ele, verificou quais as consequências dessa seca do ponto de vista dos estoques de carbono. Aí vem a outra má notícia: com as secas, a floresta emitirá mais CO2 do que absorverá.
Os pesquisadores relacionaram os dados de seca de 2010 com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).

A conclusão foi que a seca do ano passado pode emitir 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2010 e nos próximos anos. Isso não acontece de uma vez, já que a decomposição das árvores mortas é um processo lento.
Para se ter uma ideia do que isso significa: a emissão da queima de combustíveis fósseis dos EUA é de 5,4 bilhões de toneladas por ano. Em condições "normais", estima-se que a Amazônia absorva 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera.

"A seca de 2010 talvez tenha matado as árvores que já estavam vulneráveis por causa de 2005", explica Brando.
"Pode ser que a floresta se recupere, mas ainda não fomos para campo medir. Ainda temos muito trabalho de campo pela frente", diz.

Para o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é preciso analisar os dados com cuidado.

"Reduzimos o desmatamento em cinco anos, mas um fenômeno natural deixou nossa absorção de CO2 na estaca zero. Se esses cálculos não forem bem interpretados, poderão ser usados a favor do desmatamento", diz.
Marengo e sua equipe já mostraram que a seca de 2010 reduziu mais os níveis dos rios amazônicos que a estiagem anterior, de 2005.""