"Grandes e polêmicas obras serão chamadas, no Brasil, a ‘salvar’ o capitalismo global": entrevista com Oswaldo Sevá

Imperdível a entrevista com Oswaldo Sevá, publicada pelo Correio Cidadania no dia 11/08/2011:

"Enquanto o capitalismo global dá mostras inequívocas de ter adentrado no segundo e esperado momento de crise e exaustão, após o estouro detonado pelas hipotecas ‘subprime’ nos Estados Unidos em 2008, o capitalismo à brasileira caminha a passos largos. Uma das áreas na qual vem há anos atuando de modo contundente, afinado com seguidos governos, e contando com a sua cumplicidade, é no setor elétrico.

Oswaldo Sevá Filho, engenheiro mecânico, doutor em Geografia e docente da Universidade Estadual de Campinas, entrevistado do Correio da Cidadania, é um conhecido e contumaz crítico das grandes obras hidrelétricas que estão sendo tocadas Brasil afora, a exemplo de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. Trata-se de empreendimentos originários de uma visão que nem poderia ser gravada como desenvolvimentista, mesmo que a qualquer custo, visto não estar em curso no país nada que possa ser cunhado como um ‘projeto de desenvolvimento’. Bem longe disto, está em andamento no Brasil um plano para acelerar o crescimento em meio à crise estrutural do capitalismo.

Para entender o que acontece no setor elétrico em meio a tal lógica, Sevá traz à luz os poderosos grupos de interesse e lobbies atuantes no setor. “É importante entender que os Sarney são bem mais do que coronéis do Maranhão e donos de uma facção do PMDB, são lobistas e intermediários da “dam industry” desde a época da implantação dos projetos Carajás e Tucuruí no Pará. São verdadeiros articuladores dos negócios de empresas como a Camargo Correa, Alcoa, a Vale, assim como a própria presidente, desde o tempo de ministra de Minas e Energia, é uma interlocutora privilegiada do grupo Suez–Tractebel”.  Distante das discussões partidárias, que pouco significam para o engenheiro no atual momento histórico, Sevá enxerga as ferrenhas disputas políticas, às quais temos assistido pela mídia, como meros dissimuladores, cujo objetivo é esconder a guerra econômica, a luta ideológica e a luta de classes, que continuam os motores da história.

As conseqüências desse processo ainda estão, hoje, bem mais à vista da população do que a sua capacidade para interpretá-las e agir sobre elas. São diárias as notícias que dão conta da grande dimensão que assume a devastação de terras, na Amazônia em especial; do desrespeito e indiferença frente às condicionantes ambientais; do elevado uso de agrotóxicos, em detrimento da saúde e da qualidade de vida; dos povos e comunidades tradicionais deslocados por grandes e polêmicas obras. Fenômenos que se interagem em proveito do predomínio crescente do agronegócio em terras brasileiras, forçando a reprimarização de nosso comércio exterior, aliada às cifras de queda na produção e exportação de produtos industriais elaborados.

A atual crise sistêmica internacional, com a avalanche de Estados em processo falimentar, após salvaguardarem os lucros da grande finança internacional, deverá levar a mais uma penosa rodada de socialização de perdas. A estas perdas se somará o destino da economia interna, movida por grandes empreendimentos e refém de seus interesses.