Em memória de Raimundo Luis Tuin Kuru Yawanawa (1929 - 20/12/2010)


Hoje o grande Raimundo Luis Tuin Kuru deixou esta vida. Depois de passar meses em Rio Branco, sentindo saudades de sua floresta, ele volta para ela em espírito. Raimundo Luis foi uma grande liderança, homem incrivelmente inteligente e de memória prodigiosa. Rigoroso, Raimundo Luis não gostava de contar as histórias de seu povo de qualquer jeito, e tudo o que ele dizia era pleno de ensinamentos. Foi uma das pessoas mais inteligentes que conhecemos, e levou uma vida repleta de experiências. Mais do que isso, Raimundo Luis pensava sobre tudo o que via e conhecia, e foi o detentor de um conhecimento que além de enciclopédico era reflexivo. Artista refinado, manteve com amor as formas estéticas de seus ancestrais. Quando o vimos pela primeira vez, sentado em um banco na beira do rio Gregório, ele nos disse: "eu sou um historiador, um artista, um professor". Com certeza foi, e ainda muito mais do que isso.

Joaquim Tashka escreveu uma mensagem muito bonita para o seu pai (http://awavena.blog.uol.com.br/). E Felipe Milanez divulgou a triste notícia com um texto bonito também (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4853421-EI16863,00-A+despedida+de+um+grande+lider.html).

É muita treta...

As melhores fotos jornalísticas da década, segundo o Totally Coll Pix: http://totallycoolpix.com/2010/

"exportador de práticas e símbolos indígenas (mais ou menos transformados)"

"em 1970, o censo indígena da Funai indicava, para o estado do Acre, a notável população de “zero indivíduo”. Oficialmente, não havia mais índios no Acre. Aí começam a abrir as estradas por lá, a derrubar a mata, a botar boi, e eis que começam a aparecer índios a atravancar a expansão dos pastos e a destruição da floresta. (Junto com índios, como se sabe, começaram também a aparecer os seringueiros, que se imaginava como mais outra “raça” em extinção. E bem que se tentou extingui-los naquela época – lembrem-se de Chico Mendes.) Ora, índios sempre houve lá no Acre, todo mundo no Acre sabia que eles estavam lá, mas eles não existiam em Brasília, ou melhor, para Brasília. Agora sabe-se e aceita-se que o estado do Acre abriga, atualmente, 14 povos indígenas, alguns de significativa expressão demográfica, como os Kaxinauá e os Kulina. O Acre é um estado profundamente indígena, dos pontos de vista cultural, histórico e demográfico. Na verdade, ele é hoje o principal exportador de práticas e símbolos indígenas (mais ou menos transformados) para o Brasil urbano atual."

(Viveiros de Castro, em entrevista na revista Cult)

"Governo faz acordo com ruralistas e Código Florestal vai a votação na próxima terça"

Do site do ISA: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3232

"Na sessão extraordinária desta quarta-feira, dia 8, o líder do Governo, Cândido Vaccarezza (PT/SP), anunciou publicamente o que muitos já sabiam, mas ninguém confirmava: foi feito um acordo com líderes da bancada ruralista para votar na próxima terça, dia 14, o regime de urgência para a mudança no Código Florestal. Segundo Vaccarezza, o acordo seria para votar "apenas" o regime de urgência, e o mérito ficaria para o ano que vem.

Não é "apenas" um regime de urgência. Se a proposta for aprovada, o projeto volta a plenário já no começo da próxima legislatura, para ser votado na frente da fila. Considerando que ele foi um projeto elaborado e aprovado por uma comissão amplamente dominada por parlamentares que historicamente defendem a mudança (anulação) no Código Florestal, na qual houve pouca possibilidade de debate real (praticamente todas as audiências públicas foram convocadas e organizadas por sindicatos rurais ligados à CNA), e que no começo do ano que vem temos uma nova legislatura, com 40% de deputados novos, colocar um projeto desses para ser votado logo de cara é um atentado ao bom senso.

O relatório Aldo Rebelo, como ficou conhecido, tem ainda muitos problemas, grande parte fruto da ausência de debate democrático. Premia todos os que fizeram desmatamentos ilegais no passado com a possibilidade de uma ampla anistia para quem ocupou indevidamente encostas e beiras de rio (mas os que cumpriram a lei nada ganham). Outro presente para os que não cumpriram a lei até 2008 é a diminuição da reserva legal para todos, incluindo a extinção para os imóveis de até 4 módulos, o que pode ser até 440 hectares, e corresponde a mais de 90% dos imóveis rurais no país. Algumas áreas hoje protegidas, como os topos de morro, deixam de ter qualquer tipo de proteção. Para completar a obra, abre a possibilidade de que os municípios venham a autorizar desmatamento, o que significaria o fim de qualquer tipo de controle sobre o desmatamento no Cerrado e na Amazônia. Para saber mais sobre a proposta e suas consequências, acesse o site do sosflorestas.

A aprovação do regime de urgência significará fechar as portas para qualquer tipo de debate mais amplo sobre o projeto. Significará empurrar goela abaixo da sociedade como um todo um projeto que atende aos interesses de uma pequena parcela de um setor econômico, o agropecuário, pois nem todos os agentes desse setor são contrários à idéia de que é necessário conservar nossos ecossistemas e manter os serviços ambientais. As florestas, os rios, a biodiversidade, a qualidade de vida dos brasileiros, que não querem mais ter que conviver com enchentes e secas todos os anos, não podem ser rifados num acordo de ocasião. Isso não interessa à sociedade. E se não interessa à sociedade, não deveria interessar ao governo.

Se o líder Vaccarezza está falando em nome do Governo, é porque a presidente eleita Dilma quebrou sua palavra. Se não está falando em nome do Governo, então tem que voltar atrás nesse acordo, com o qual nem o líder do PT concorda. Com a palavra o Presidente Lula e a presidente eleita, que têm que se manifestar - e agir - até a próxima terça.

Manifeste-se sobre o acordo
Se você quiser se manifestar sobre esse acordo feito em seu nome, entre em contato com o deputado Cândido Vaccarezza, no telefone 61-3215-5958 ou aqui. Vale a pena falar também com o ministro Alexandre Padilha, que cuida da relação do governo com o Congresso, e deve estar sabendo do acordo. O telefone é (61) 3411.1585 e o e-mail é sripr@planalto.gov.br"

Deriva molecular

Passeando pela rede encontramos o site do bioquímico David S. Goodsell (que ilustrou a capa da Science desse dezembro - clique aqui para baixá-la). Um exemplo legal do que acontece quando a ciência e as artes visuais se encontram...

100511_hiv_L

(vírus do HIV)

virus_hepatite_b

(vírus da hepatite B)

anticorpos

(anticorpos)

macrophagebacterium

(macrófagos vs bactéria)

ecoli

(Escherichia coli)

Na cidade as coisas são outras.

(foto de Roberto Feres, tirada do blog do altino)

desmentindo

"a vida só se organiza se desmentindo, o que é bom para uns é muitas vezes a morte para outros, sendo que só os tolos, entre os que foram atirados com displicência ao fundo, tomam de empréstimo aos que estão por cima a régua que estes usam pra medir o mundo”

Raduan Nassar

Alô meu Acre



Alô meu Acre, meu torrão querido,
eu tenho sofrido uma saudade imensa
por viver distante da minha cidade
amargo a saudade na minha presença
vai minha homenagem a Tarauacá
Senador Guiomard, Feijó e Rio Branco
Plácido de Castro, Sena Madureira
Gente hospitaleira que eu gosto tanto
Vou a Xapuri e volto por cima
Vou a Mâncio Lima e Assis Brasil
Cruzeiro do Sul, cantando desfaço
Vai o meu abraço pra todo Brasil




(música cantada por Osmildo Kuntanawa em uma noite de cipó)

internet

"comessei ver no horizonte uma frecha de luz desse mundo maluco de informaçâes que é a internet. um dia alcansarei. è, um dia!"

Reginaldo Xakriabá (mensagem de e-mail recebida em 22/05/2007)

Batalha entre floresta e gado na Amazônia

 

      gregoriovaca

"“Agarre na mão de Deus”, disse sua mãe ao falecer. Só mais tarde compreendeu que ela, enquanto agonizava com falência dos rins, o exortava a continuar seu trabalho de evangelização católica.

Era 1980, e viviam isolados no seringal de Iracema, como uma grande família formada por dezenas de adultos, meninos e meninas, sobrevivendo do que a selva amazônica oferecia e da venda de látex natural extraído da seringueira.

Aldeci Cerqueira Maia, o “Nenzinho”, tinha 18 anos e havia se casado há pouco quando sua mãe morreu. Extrator de borracha desde os nove anos, guarda até hoje, “como um talismã”, uma das primeiras pelotas que fez com esse produto. Seus avós foram “soldados da borracha”, levados do Nordeste para a Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para abastecer de borracha os exércitos aliados.

Mais tarde, o Estado do Acre começou a receber novos visitantes interessados, não nos frutos da floresta, mas em derrubá-la e implantar a pecuária e alguma plantação. Os assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) restringiam o seringal. Quando, em 1986, o Incra se preparava para ocupar parte dos seringais para assentar os agricultores, os cultivadores de borracha ameaçados de expulsão uniram-se no “empate”, uma forma de resistência pacífica que levou multidões a se opor ao desmatamento.

“Conseguimos parar a expropriação do Incra”, disse Nenzinho, mas foi preciso uma longa luta até que o triunfo se formalizasse na criação da Reserva Extrativista (Resex) Cazumbá-Iracema, em 2002. Resex é uma área de proteção ambiental onde seus moradores tradicionais têm direito ao uso sustentável dos recursos naturais e benefícios como subsídios ao preço da borracha. Esta foi a vitória do “empate”, um invento de Chico Mendes, herói dos povos da floresta amazônica, no qual os seringueiros formavam barreiras humanas para impedir o corte da floresta.

Mas a criação dessas reservas custou sangue e conflitos. Chico Mendes foi assassinado em 1988 por pecuaristas em Xapuri, cidade do leste do Acre. Oito anos antes, já haviam matado Wilson Pinheiro, outro líder de seringueiros e trabalhadores rurais. O primeiro legado de ambos foi a criação, em 1990, da Resex Chico Mendes, com 970.570 hectares, onde vivem hoje cerca de 1.800 famílias.

Nenzinho sobreviveu a duas ameaças de morte, uma delas por ter denunciado um delegado por caça ilegal. Mas sempre contou com a proteção e o apoio do padre Paolino Baldassari, cura italiano já octogenário mas ativo, que formou gerações de ativistas católicos e animou todas as lutas dos pobres em Sena Madureira, município sede da Resex Cazumbá-Iracema.

O sucesso da resistência do seringal Iracema e de sua própria liderança, Nenzinho atribui à pregação religiosa iniciada por sua mãe e seguida por ele, sempre sob orientação de padre Paolino. “O ser humano não vive apenas de pão, e tampouco só de oração”, disse ter aprendido Nenzinho, que decidiu também cuidar da saúde de seus vizinhos, capacitando-se como agente sanitário e depois enfermeiro.

As visitas frequentes a todas as famílias locais o fizeram padrinho de meninos e meninas de 56 famílias. “Era compadre de todos”, contou. Porém, uma brutal queda no preço da borracha na década de 1990 ameaçou desfazer sua comunidade. Muitos abandonavam o seringal. Os persistentes criaram uma cooperativa e Nenzinho, com as facilidades de agente de saúde da prefeitura, transportava a produção de todos para vender na cidade, fazendo com que economizassem custos e tempo.

O transporte por animais demorava quase um dia inteiro, já que não havia estradas, apenas caminhos escorregadios quando chovia. Em 1992, o preço caiu mais ainda e “não havia compradores”. Nenzinho decidiu salvar um mínimo da comunidade convidando dez famílias a se somarem à extração de castanha com o que ele e seus parentes conseguiam alguma renda, graças à sorte de viver junto a um grande castanhal. Como a colheita de castanha se limita ao primeiro trimestre, também recorreu ao cultivo de arroz, feijão, banana e outros alimentos no restante do ano.

“Foi difícil” mudar os hábitos de extratores acostumados à carne de caça. “Tivemos que aprender a comer outras coisas. Eu mesmo precisei me domesticar”, admitiu Nenzinho. Outro triunfo foi a abertura de um ramal viário até a Resex, “uma missão impossível, mas realizada”. Em 1997, chegou o primeiro automóvel, entre choros “de emoção”, contou. “O transporte é tudo”, afirmou, embora a terra escorregadia impeça o tráfego de veículos a maior parte do ano.

Cazumbá-Iracema também foi a “primeira comunidade extrativista a ter ensino médio no Acre”, destacou orgulhoso. São 15 alunos no secundário e 96 no ensino primário, informou a professora Algecida Cerqueira, em sua casa de madeira, no povoado principal da Resex. “Nasci aqui e fundei a escola em 1993”, contou, dizendo que a juventude “quer ficar aqui”, ao contrário dos filhos de camponeses assentados nos arredores. Um exemplo é Ronaldo Santos, de 18 anos, que pensa em estudar biologia em alguma cidade e depois voltar para pesquisar “a floresta cheia de mistérios”.

Finalmente, em 2002, o governo federal decretou a criação da desejada Resex Cazumbá-Iracema, com 750.975 hectares. Isso lhes dá subsídios que elevam para R$ 3,20 a renda obtida por um quilo de borracha, 2,7 vezes o preço do mercado, mas equivalente a apenas um terço do poder de venda de 1980, segundo Nenzinho. O seringueiro hoje cuida de sua Resex como funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio ambiente encarregado das unidades de conservação, como Resex, Parques e Florestas Nacionais.

A população local aumentou para 320 famílias que, para melhorar sua renda, tentam diversificar a produção. Além da castanha e da pequena agricultura, desenvolvem o artesanato, especialmente com o emborrachado, de látex com o qual fazem grandes pinturas e mouse pads em forma de árvores amazônicas. Na Resex Chico Mendes já se usa o látex para fabricar camisinha e a “folha defumada”, espécie de couro vegetal usado para fazer calçados.

Contudo, parece insuficiente. Há dois anos foram descobertas milhares de cabeças de gado e uma grande área desmatada na reserva, violando os objetivos da área protegida. O Incra executou no Acre projetos de “colonização” e criou assentamentos causando um amplo desmatamento ao longo das estradas nas décadas de 1970 e 1980, mas depois mudou sua forma de atuar, incorporando a dimensão ambiental e aproximando-se do espírito das Resex, explicou João Ricardo de Oliveira, chefe de Planejamento do Instituto no Estado.

O objetivo do regime militar da época era ocupar a Amazônia, com a filosofia de “integrar para não entregar” a soberania da região, e também assentou milhares de deslocados por projetos hidrelétricos no sul, sem nenhuma preocupação ambiental, explicou. No Acre chegaram menos deslocados do que no vizinho Estado de Rondônia, que foi um exemplo negativo do amplo desmatamento e disseminação da malária.

Agora, procura-se criar uma Zona Econômica Ecológica no Acre, e os assentamentos evitam áreas de floresta nativa ou são feitos de forma sustentável, assegurou. O novo modelo será testado logo no assentamento dos “basivianos”, camponeses brasileiros expulsos da faixa fronteiriça com a Bolívia. “Temos uma lista de 417 famílias”, disse João Ricardo."

Texto de Mario Osava, no laço: http://www.brasildefato.com.br/node/4580

Fórum da Cultura Digital Brasileira 2010

De 15 a 17 desse novembro acontece o Fórum da Cultura Digital Brasileira 2010, em São Paulo.

Pra quem tá perto, vale ir lá ver alguma coisa. Pra quem tá longe, vamos acompanhar pela rede...

Mais informações no laço: http://culturadigital.br/forum2010/

Entre extirpar o Dem(o) e erradicar a pobreza

lula

Em campanha pra Dilma, Lula disse em um comício que o Dem(o) deveria ser extirpado da política brasileira. A sentença do presidente causou furor na rede, principalmente à direita, pois declarar assim em público o desejo de extirpar um partido político soa meio agressivo. Alguns se apressaram em declarar que Lula, apoiado em um índice de aprovação popular monstruoso e nas pesquisas de intenção de voto que davam à sua candidata a vitória ainda no primeiro turno, colocava suas garras de fora. Isso se soma a esse papo (furado) de que o governo é contra a liberdade de imprensa e etc. - imagine, num país onde todos os jornais e revistas de maior circulação se colocam a serviço da desmoralização do presidente e da calúnia contra o seu partido e os seus membros... Lula fez como o capitão de um time de futebol seguro da vitória, que vira para os seus 10 companheiros no vestiário antes da partida e diz: "vamos acabar com eles".
A frase de Lula, pronunciada de uma maneira pouco cuidadosa, na verdade traduz a certeza de que o espectro partidário brasileiro vai se transformando, mas pela via das urnas. Com efeito, pelo que tudo indica, a oposição Dem(o)-PSDB sai dessas eleições enfraquecida, e terá que passar por uma reestruturação. Nesse processo, dizem alguns, Aécio talvez seja fortalecido, talvez pela pretensa capacidade de indicar um caminho moderado de oposição ao governo petista. O fato é que toda uma ala à direita da política brasileira, apoiada pela grande mídia, levou uma surra considerável nessa disputa presidencial de 2010.
Há menos tempo, no evento comemorativo da capitalização da Petrobrás, na Bovespa, Lula disse que a descoberta do pré-sal e a capitalização para a sua exploração permitirão à Petrobrás ajudar a “erradicar de vez a pobreza do nosso povo, garantir educação pública de qualidade a todos os filhos da nossa terra”. Lula tem motivos para comemorar, porque conseguiu em oito anos estruturar um Estado superavitário que distribui renda, e que promove a "inclusão" de milhares no ensino superior e etc. Num paradoxo que não escapa ao humor de nosso presidente, o maior socialista brasileiro do século XX conduziu um governo que transformou o país na maior economia capitalista da América Latina. “Um estado fraco nunca foi sinônimo de iniciativa privada forte” disse o presidente.
Nos parece que em seu melhor e em seu pior uma parte dos oito anos de governo Lula podem ser compreendidos entre as duas coisas: extirpar o Dem(o) e erradicar a pobreza. Sem dúvida, é sob a batuta de Lula e de seu governo que o Brasil vem mudando, se transformando em um país fundamentalmente menos injusto, quando comparado ao que era há quinze ou vinte anos atrás (pra não recuar mais). Hoje, o "partido republicano" brasileiro, formado pelos Dem(o)s, psdbistas e etc., e pela grande imprensa, não tem mais a força hegemônica que tinha. Assim como um ex-operário pode ser presidente, muitos milhares de brasileiros das classes C e D não estão mais alijados da política nacional, e parecem expressar em suas intenções de voto a convicção de que o Estado, mais do que ser um agenciador de negócios particulares, deve propor programas-escada-rolante, capazes de conduzir cada brasileiro ao andar de cima da estratificação social. Se o Dem(o) for erradicado, não será pela violência de um presidente eleito, mas pelo peso e atraso dos pressupostos de sua política. Uma grande parte do eleitorado brasileiro sabe hoje identificar os candidatos que lhes oferecem um projeto de país, e optam pelo prospecto de um governo que parece ser capaz de distribuir renda, de universalizar o acesso a crédito, de universalizar o ensino superior, etc. Ou seja, ninguém vai conseguir se manter na política apenas comprando voto barato, ou coagindo as pessoas e deturpando a história com jornais manipulados, para, quando eleito, se dedicar a excluir e a segregar, mantendo no poder apenas quem ali já estava. Com certeza 2010 marca o início do enfraquecimento dessas formas anacrônicas de fazer política.
O sucesso da política econômica do governo Lula ("o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela", como a Dilma gosta de dizer) garantiu a expansão sem precedentes das universidades federais e das escolas de cursos técnicos e tecnológicos, o boom da construção civil (que emprega e garante facilidades para a compra da casa própria), os infindáveis editais de projetos do Ministério da Cultura, etc., etc., etc... A internet tá cheia de exemplos dos sucessos do governo Lula, e não precisamos multiplicá-los aqui. O fato é que tudo conspira para a realização da promessa do presidente: a redução drástica da pobreza no Brasil.
Pois bem, que sumam o Dem(o) e a pobreza. E boa sorte à nossa primeira presidenta.
Agora, devemos notar uma outra novidade trazida por esse ano eleitoral: a terceira candidata, caboclinha da floresta, Marina Silva, que parece ter carregado com seus 20 milhões de votos uma parte das críticas inteligentes ao governo Lula. Pois cabe ao PT compreender a mensagem da Marina, e não diminuir o recado dado por ela de uma maneira muito clara: não faz sentido continuar reproduzinho formas anacrônicas de produzir.
Na nossa opinião, a grande crítica que deve mobilizar uma oposição razoável a esse governo passa pela urgência em se discutir mais profundamente onde queremos chegar. Pois, junto com erradicar a pobreza, vai o seu contrário: fomentar a riqueza. Mas qual riqueza? Nesse ponto, Dilma parece bem próxima de nosso presidente: "por isso que eu considero que erradicar a pobreza é um elemento fundamental(...). Quero um país de classe média" (debate dos candidatos a presidente na Bandeirantes, no dia  10/10/10(!)).
"Quero um país de classe média"!!!!!!! aí mora o perigo. Fazer a equivalência entre a erradicação da pobreza e a criação de um país de classe média é um movimento pra lá de sinistro. Pois hoje deveríamos ser capazes refletir verdadeiramente sobre o que é viver bem, para além dos ideais limitados e produtores de lixo da classe média brasileira. Será que esses que hora ocupam o governo já não são suficientemente imaginativos para oferecer para aqueles que acabaram de se tornar interlocutores no debate político algo mais do que os confortos mornos e infelizes de nossa classe média???? Devemos ser capazes de encontrar outras opções de vida particulares, adequadas para cada região. Deus livre o Brasil de se tornar um grande sudeste.
Pra continuar pensando sobre o assunto:

2-http://tapecuim.blogspot.com/2008/01/diversidade-socioambiental-eduardo.html

"Brasil tem mais de 70 grupos indígenas isolados, aponta Funai"

"Tribos vivem sem contato com o 'homem branco'.
Órgão trabalha para demarcar reservas sem contatá-los.

Lucas Frasão Do Globo Amazônia, em São Paulo

O Brasil tem 76 grupos indígenas vivendo em situação de isolamento ou contatados pela primeira vez recentemente. Ao menos 28 tribos isoladas já foram confirmadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mas o órgão ainda estuda mais de 40 pontos em que há possibilidade de encontrar povos isolados.

A informação é do historiador Elias Bigio, responsável pela Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai, que apresentou nesta quarta-feira (27), em São Paulo, a versão mais atualizada do mapa que indica a localização dos isolados.

Todos os grupos isolados estudados pela Funai ficam em estados da Amazônia Legal, exceto o povo Avá-canoeiro, cujo isolamento em uma área de Goiás, ao norte de Brasília (DF), ainda é investigado.

Segundo Bigio, 6 povos foram contatados pela primeira vez recentemente. É o caso dos Piripikura, em Mato Grosso, dos Akunt'su e dos Kanoê, em Rondônia, dos Korubo e dos Suruwaha, no Amazonas, e dos Zoé, no Pará.

Foto: Reprodução

Com exceção de um povo isolado que vive em Goiás, todos os outros indígenas não contatados estão em estados da Amazônia Legal, informa a Funai. (Foto: Reprodução)

Apesar da confirmação desses povos, desde a década de 1980 a política da Funai é de não fazer mais contato com tribos isoladas, ao contrário do que ocorreu em toda a história brasileira. "Há povos que não querem contato ou só querem poucos recursos. Hoje o trabalho é de identificação, sendo que é possível demarcar uma terra indígena sem contatar as tribos", diz Bigio.

Memórias sertanistas

Elias Bigio veio a São Paulo para prestigiar um encontro tido como histórico por organizadores e participantes. Trata-se da reunião, na capital paulista, de sertanistas que vivem há anos em diversas áreas da Amazônia e se aventuram em expedições que duram dias no meio da selva, trabalhando na linha de frente para tentar compreender a geografia e a cultura dos índios isolados.

O encontro Memórias Sertanistas celebra 100 anos de indigenismo no Brasil, cujo marco inaugural foi a criação do Serviço de Proteção do Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPI), em 1910. A instituição foi extina em 1967, com a criação da Funai.

Para relembrar algumas histórias de contatos com indígenas, o evento reúne sertanistas como Afonso Alves da Silva e José Carlos Meirelles, que já chegaram a ser atacados com arco e flecha, e antropólogos como Betty Mindlin, Carmem Junqueira e Mércio Gomes, ex-presidente da Funai. A programação gratuita segue até o fim desta quinta-feira (28) no Sesc Consolação."

(no link: http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1626736-16052,00-BRASIL+TEM+MAIS+DE+GRUPOS+INDIGENAS+ISOLADOS+APONTA+FUNAI.html)

Contra o AI-5 digital!

Cartaz_Protesto_Azeredo_A4

A Lei sobre Crimes de Informática, ou AI-5 Digital, é um projeto de lei enviado à Câmara pelo senador Eduardo Azeredo do PSDB que quer bloquear o uso de redes P2P, quer acabar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet armazenem dados e eventualmente se tornem delatores de seus usuários. A Lei Azeredo pensa que cada usuário da rede é um criminoso em potencial, e quer transformar em crime o ato de "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida". O deputado Régis de Oliveira (PSC-SP), relator na última comissão que aprovou a lei, chegou a dizer que "só assim vamos combater a pirataria, os hackers, esse pessoal todo que usa computador para fins inadequados.” Com a aprovação de uma lei como essa, quase tudo o que se faz na internet hoje será considerado crime. Mais uma vez, são os fantasmas de leis e concepções absolutamente anacrônicas arrastando suas correntes lá em Brasília, a mando dos interesses econômicos de alguns poucos.

Mais informações: http://www.camara.gov.br/internet/radiocamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=109621; http://meganao.wordpress.com/; http://blogs.estadao.com.br/link/um-passo-para-a-lei/; http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html

Plano de ação para produção e consumo sustentáveis

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O Ministério do Meio Ambiente colocou o Plano de Produção e Consumo Sustentáveis na internet, e até o dia 11 de novembro qualquer pessoa ou instituição pode sugerir ideias ou críticas ao documento. Segundo o MMA, trata-se de uma agenda positiva, pensada para os próximos três anos, composta de ações em curso ou que deverão ser desenvolvidas no curto prazo. As prioridades selecionadas pelo governo passam por seis pontos básicos: "educação para o consumo sustentável, compras públicas sustentáveis, agenda ambiental na administração pública, aumento da reciclagem de resíduos sólidos, construção civil sustentável e, por fim, varejo e consumo sustentáveis".

Sabemos que o capetalismo não dá trégua. Mas, apesar dos limites óbvios da ideia, trata-se de uma tentativa de democratizar a discussão que deve ser aproveitada. (já havíamos indicado o caso do marco civil que regulamenta o uso da internet no Brasil, que também foi colocado na rede para apreciação geral).

Mais informações no sítio: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=243#

Agricultura amazônica pode chegar a 8.000 anos

“Data obtida em sítio de Rondônia é uma das mais antigas da América

Indício vem da presença de terra preta, solo que surge em uso intenso da vegetação; obra de usina possibilita achado

O sítio arqueológico conhecido como Garbin não existe mais. Tragado pelas obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio (RO), em seu lugar ficará o vertedouro da barragem -uma espécie de válvula de escape da usina.
Antes que o sítio sumisse, porém, arqueólogos desenterraram ali sedimentos e artefatos que podem indicar que a agricultura na Amazônia foi "inventada" há uns 7.700 anos -uma das datas mais antigas do continente, e a mais velha do Brasil.
A pista de que a técnica foi dominada em época tão remota é indireta, mas forte. Trata-se da chamada terra preta, solo rico em matéria orgânica que, até onde se sabe, só surge com o acúmulo constante de dejetos de origem animal e vegetal, característico do uso intensivo desses recursos.
"Se não era agricultura propriamente dita, eles, no mínimo, estavam fazendo um manejo intenso dos recursos vegetais", diz o arqueólogo Renato Kipnis, sócio da empresa Scientia Consultoria Científica e um dos coordenadores do trabalho.

AO RESGATE
Kipnis e seus colegas andam zanzando para cima e para baixo da BR-364, perto de Porto Velho, desde 2008. Por lei, as compensações ligadas a uma usina do porte da de Santo Antônio, no rio Madeira, exigem o resgate de possíveis bens de interesse arqueológico que apareçam na construção. A empresa do arqueólogo venceu a licitação para fazer o serviço.
"Imagine só quando percebemos que os principais sítios estavam bem no canteiro da obra", brinca Ricardo Márcio Martins Alves, gerente de sustentabilidade da Santo Antônio Energia. "Mas logo conseguimos nos organizar para que o trabalho dos arqueólogos fosse feito."
A equipe da Scientia descobriu que, em paralelo com a rodovia moderna, corria uma hidrovia pré-histórica. A calha do Madeira na região está coalhada de sítios, que abrangem ambas as margens do rio e também as ilhas e pedrais (rochas de corredeiras) no meio do leito. Há gravuras rupestres, cerâmica decorada, artefatos de pedra e terra preta para dar e vender.
"O incomum é que no sítio Garbin havia terra preta associada a artefatos de pedra, e não a cerâmica", diz a arqueóloga gaúcha Silvana Zuse, que integra a equipe.
Vasculhar esses instrumentos em busca de restos vegetais microscópicos pode indicar o que, afinal, os moradores do Garbin cultivavam. A aposta mais óbvia: mandioca, a lavoura amazônica por excelência.
"É chato saber que vários sítios vão sumir. Mas, se não fosse pela obra, dificilmente teríamos tanta verba para trabalhar aqui", diz a geóloga Michelle Mayumi Tizuka.”

(na Folha de S.P.)

“Ideia de "mata virgem" passa por uma revisão

Se novos dados confirmarem a antiguidade da agricultura nativa na calha do Madeira, deve ganhar ainda mais força uma hipótese defendida por arqueólogos que trabalham na Amazônia.
Trata-se da ideia de que o termo "floresta virgem" pode ser profundamente enganoso. A mata seria, na verdade, uma "floresta cultural", manejada pelos indígenas ao longo de milhares de anos para que as espécies de seu interesse prosperassem.
Quem se embrenha na mata da ilha Dionísio, um dos locais estudados pela equipe da Scientia, não precisa de muito para crer na ideia.
Após caminhar por alguns minutos por uma floresta estonteamente diversa, onde nenhuma árvore é igual à vizinha, você parece cruzar os limites de um círculo invisível dentro do qual, de repente, uma única espécie reina.
É um urucurizal -como o nome diz, uma concentração da palmeira conhecida como urucuri. O fruto é comestível.
"Uns gostam, outros nem tanto. O pessoal come quando cai da árvore", conta Vanderlei Alves Santos, assistente de campo das escavações que, empolgado com o trabalho, enfrenta o vestibular para o curso de arqueologia da Universidade Federal de Rondônia no mês que vem.
"Há um debate grande se coisas como o urucurizal são naturais ou surgiram pelo manejo da floresta", diz Kipnis. "O risco é você criar uma espécie de viés de confirmação. Se procurar sinais de uma floresta antrópica [ou seja, gerada pelo homem] em locais onde sabidamente houve ocupação no passado, vai acabar achando, claro."
Uma ideia para contornar isso seria calcular a "assinatura" visual de certos tipos de árvore -as "culturais" e as de uma mata mais virgem, por exemplo- quando vista do espaço, via satélite. "Aí você poderia detectar as áreas e ir lá escavar para ver se há sítios mesmo", explica.
Em outra ilha, enquanto escava, o arqueólogo Eduardo Bespalez aponta uma enorme sumaúma, espécie de mata intacta. "Essa aí viu o pessoal dançando no terreiro", brinca.”

(na Folha de S.P.)

“Plantio teria facilitado a expansão tupi

Área onde há indícios de agricultura também é considerada berço de povos que colonizariam litoral do país
Cultivo de mandioca tem forte elo com as tribos do grupo, mas evidências mais claras são difíceis de obter


"Tupi or not tupi" (tupi ou não tupi), brincava o poeta brasileiro Oswald de Andrade, parodiando o "to be or not to be" de Shakespeare. No caso das descobertas em Rondônia, a piada do autor modernista está estranhamente próxima da realidade.
Isso porque, ao que tudo indica, o Estado amazônico é considerado por muitos estudiosos como o provável berço da expansão tupi.
É ali que existe a maior diversidade de idiomas do tronco linguístico tupi -e os estudos mostram que essa diversidade só aparece com o tempo. Portanto, é um sinal claro de que os tupis estariam por lá há milênios.
Os povos que falavam idiomas tupis, porém, já tinham se espalhado por uma enorme área, alcançando todo o litoral do Brasil, na época do primeiro contato com os europeus. Seria possível identificá-los como os primeiros plantadores de mandioca do Brasil? Será que isso teria conferido a eles uma vantagem competitiva frente a seus rivais sem lavoura?
Ideias desse tipo ganharam força entre arqueólogos nas últimas décadas. Grosso modo, ocorre que, comparados a caçadores-coletores, povos de fazendeiros têm mais muque demográfico.
Conseguem produzir mais comida para alimentar mais gente no mesmo espaço -algo entre dez e cem vezes mais pessoas por hectare. Por isso, ganhariam a briga por expansão territorial, desalojando ou derrotando em combate seus rivais não-agrícolas.
"Não há dúvida de que há um elo muito forte entre os tupis e o cultivo da mandioca, até do ponto de vista dos mitos sobre a planta que são importantes para eles", diz o arqueólogo Eduardo Bespalez, que tenta relacionar o registro dos sítios com os povos indígenas atuais.
"Encontramos por aqui a cerâmica da chamada tradição policrômica da Amazônia. É comum ela ser associada aos grupos tupis, embora povos sem relação com eles também a tenham produzido", adverte o pesquisador.
Renato Kipnis vê com interesse um possível elo entre avanço demográfico e agricultura, mas diz que os modelos a esse respeito podem acabar sendo simplistas.
"Uma coisa que notamos, com base no próprio sítio Garbin e em outros locais, foram datações em torno de 5.000 anos, as mais antigas depois da de 7.700 anos", conta ele. "O curioso é que essa idade é uma das estimadas para a divergência inicial das línguas do tronco tupi. É uma possibilidade a explorar", afirma o arqueólogo.

PRESERVAÇÃO
Segundo a Santo Antônio Energia, a Universidade Federal de Rondônia terá apoio para montar um acervo preservando os achados dos sítios arqueológicos que foram -ou serão- destruídos pela usina. Outras áreas de escavação, que não serão diretamente afetadas, podem virar áreas de estudo permanente.”

(tb, na Folha de S.P.)

Povos indígenas no Brasil 1980-2000

O Instituto Socioambiental (ISA) disponibilizou na rede a série de livros Povos Indígenas no Brasil, que começou a ser publicada em 1980 pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi). Cada livro da série apresenta uma quantidade de artigos assinados por indigenistas, políticos e especialistas de diversos campos do conhecimento, abordando temas como educação indígena, direitos territoriais, saúde e etc. Trata-se de uma fonte de informação de inestimável valor, agora disponível para a consulta online ou para a baixação. No link: http://pib.socioambiental.org/pt/c/povos-indigenas-no-brasil-serie-historica.

Tatá

Tatá reza caiçuma. Via Yuxinawa.

"Nestes filmes a humanidade prepara-se para sobreviver à civilização"

Mickey Mouse, por Walter Benjamin

(Fragmento escrito em 1931; não publicado durante a vida de Benjamin. Tradução de Pádua Fernandes, para O Sopro)

De uma conversa com [Gustav] Glück e [Kurt] Weill. - Relações de propriedade nos filmes de Mickey Mouse: aqui aparece pela primeira vez que alguém pode ser roubado de seu próprio braço, sim, de seu próprio corpo.

O percurso de um documento em uma repartição tem mais semelhança com um dos que Mickey Mouse percorre do que com o dos maratonistas.

Nestes filmes a humanidade prepara-se para sobreviver à civilização.

Mickey Mouse demonstra que a criatura ainda pode subsistir mesmo quando toda semelhança com o homem lhe foi retirada. Ele rompe com a hierarquia das criaturas concebida com fundamento no humano.

Estes filmes desautorizam, da maneira mais radical, a experiência. Não é compensador em um tal mundo ter experiências.

Semelhança com os contos de fada. Nunca desde esses contos os fenômenos mais vitais e importantes foram vividos de forma tão não simbólica e sem atmosfera. O incomensurável contraste com Maeterlink e com Mary Wigman. Todos os filmes de Mickey Mouse têm como motivo sair para aprender o medo.

Portanto, não a “mecanização”, não a “fórmula”, não um “mal-entendido” são a base do tremendo sucesso destes filmes, e sim o fato de que o público neles reconhece sua própria vida.

A direita vai à luta

Há pouco mais de um século, Nietzsche dizia: "mais um século de jornais e todas as palavras vão feder". Acho que estamos bem próximos de cumprir esse vaticínio. Quem de vez em quando dá uma olhada nos grandes jornais, em busca de informações sobre a disputa eleitoral, não pode concluir outra coisa. Especialmente no caso da Folha de São Paulo: à medida que vem chegando o dia da eleição, menor vai ficando o intervalo entre a publicação de um escândalo fabricado e outro. Quase não dá pra entender esse dueto com a Veja, já que, pelo que nos parece, a Folha sempre buscou um público mais intelectualizado, menos afeito a esses arroubos ideológicos da direita (ao menos na aparência). Será que esse pessoal da Folha ainda acredita que é possível virar um jogo mais do que perdido? Além dos de sempre, quem será que a Folha quer favorecer com essa lambança, que arrisca acabar com o jornal? Parece mesmo é que eles chutaram o balde e estão agora dando tiros pro alto. Os chefes da Folha decidiram de uma hora pra outra pular no abismo. Mas se fosse só isso, estaria tudo bem. Ninguém perde muita coisa com o fim da Folha (bem, talvez algumas coisas que andamos colando aqui…). O problema é que antes deles desaparecerem ainda vão dar voz pra baixa política brasileira, engrossando um coro besta que só simplifica os problemas. Como nas duas “reportagens” aí debaixo.

(Obs: engraçado o Bocalom se opor ao “modelo de desenvolvimento sustentável do PT”... Outro dia vimos em uma lanchonete Bobs uma placa dizendo que a obra foi financiada com grana do Banco da Amazônia, como parte dos investimentos governamentais em “desenvolvimento sustentável”. Ficamos pensando: como é possível acreditar que uma lanchonete com um esquema de produção semi-industrial, cujos sanduíches são todos à base de carne bovina e frango de granja, e que vem embalados em isopor e papel plastificado, produzindo muito lixo, é “sustentável”?)

Direitos autorais…

Há alguns dias atrás a polícia civil carioca fechou uma copiadora numa faculdade de serviço social, e apreendeu todo o material deixado para os alunos fotocopiarem.  O dono da copiadora foi levado para a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial. O A. Nodari escreveu um comentário legal sobre esse fato pitoresco: vale a leitura para os interessados no assunto dos direitos autorais - no link: http://www.culturaebarbarie.org/blog/2010/09/para-alem-dos-direitos-autorai.html

Claude Lévi-Strauss

No dia 30 de outubro de 2009, Claude Lévi-Strauss passou dessa para a melhor, deixando atrás de si um obra imensa e complexa. Dono de uma erudição gigantesca e de uma inigualável atenção para os detalhes, Lévi-Strauss renovou profundamente o campo das ciências no século XX. Sob sua influência, o pensamento se abre ao mundo, ao perceber-se irremediavelmente parte dele. Assim, o “anti-humanismo” que se desenvolve na obra do autor pelo menos desde a disputa contra Sartre (no capítulo final de O pensamento selvagem), indica hoje os caminhos de um pensamento capaz de especular fora da restrita imaginação burguesa e edipiana, em simbiose com a imaginação concreta do mundo.

Desde que nos pusemos a roer os cantos de algumas obras de Lévi-Strauss, cada vez nos impressionamos mais pela riqueza ainda largamente inexplorada que ali encontramos. Nessas trevas de nosso tempo, enquanto alguns pensadores se tecnicizam ao ponto de tornarem-se estéreis, os textos levi-straussianos continuam emitindo os signos que apontam para a diversidade do mundo, com a elegância e a precisão de sempre...

Separamos uns laços para baixar algumas obras do etnólogo, bem como textos sobre ele. Todos os links abaixo foram encontrados durante nossas trilhas pela rede. A esses laços nós acrescentaremos outros, em breve...
 
Obras de Levi-Strauss:
A lição de sabedoria das vacas loucas
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000300025&lng=en&nrm=iso
Du Miel Aux Cendres
http://depositfiles.com/pt/files/g85xhguad
Le cru et le cuit
http://depositfiles.com/pt/files/7eltte5tk
Mito y Significado
http://www.filesonic.com/file/15073339/A_100728_EdEs_Mys.rar
ou
http://depositfiles.com/pt/files/96yd9ybcz
O feiticeiro e sua magia
http://www.4shared.com/document/McRr8PvE/Levi_-Strauss_Claude_-_OFeitic.html
Mito e Significado
http://www.4shared.com/document/lFeBtaie/Levi_-Strauss_Claude_-_Mito_e_.html
Tristes Tropicos
http://www.4shared.com/document/UxcBXdO7/Levi_-Strauss_Claude_-_Tristes.html
De perto e de longe (com Didier Eribon)
http://www.4shared.com/document/b3qbFDbv/Levi-Strauss_Claude__Didier_Er.html
O Olhar Distanciado
http://www.4shared.com/document/ctfFSWqi/Lvi-Strauss_Calude_-_O_Olhar_D.html
As estruturas elementares do parentesco
http://www.4shared.com/document/1lXiTZf2/Lvi-Strauss_Claude_-__As_estru.html
Antropologia estrctural
http://www.4shared.com/document/4DW9dhNV/Lvi-Strauss_Claude_-_Antropolo.html
A Oleira Ciumenta
http://www.4shared.com/document/e7RSEhS1/Claude_Lvi-Strauss_-_A_Oleira_.html
O Suplício do Papai Noel
http://www.mediafire.com/?ytyzyzwfkyw
O que é a humanidade? (entrevista sobre Alfred-Louis Kroeber)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142009000300024&lng=en&nrm=iso
Vídeo:
Grandes pensadores del siglo XX – Claude Lévi-Strauss
http://www.megaupload.com/?d=T4L8R6BI
 
Obras sobre Lévi-Strauss:
Número especial sobre Lévi-Strauss, da Revista de Antropologia da USP
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0034-770119990001&lng=en&nrm=iso
Merquior: A estética de Lévi-Strauss
http://www.mediafire.com/?iqw1ul0fzyl
Octavio Paz: Claude Lévi-Strauss ou o Novo Festim de Esopo
http://www.mediafire.com/?htjmiidj1jm
Eduardo Viveiros de Castro: Lévi-Strauss nos 90
http://www.4shared.com/document/8STn3jSC/Castro_Eduardo_Viveiros_de_-_L.html
Catherine Clément: Claude levi-strauss ou la structure et le malheur
http://www.megaupload.com/?d=8ESVQUGE
ou
http://uploading.com/files/9am3fm63/levistrauss.zip/
ou
http://www.fileserve.com/file/8SEBrjH
Boris Wiseman: The Cambridge Companion to Lévi-Strauss
http://depositfiles.com/pt/files/d9s3q3fs7
ou
http://www.filesonic.com/file/15701373/a74-0521846307%20.zip

Fumaça VI

O Acre continua pegando fogo.
Vejam essa reportagem no Blog do Antino:

http://altino.blogspot.com/2010/09/o-acre-em-brasa.html

rã-txa hu-ni-ku-ĩ

"Em 23 de outubro de 1853 no Engenho Columinjuba, localizado no então distrito de Maranguape (CE), nascia João Honório Capistrano de Abreu. Ele fez seus primeiros estudos em Fortaleza, onde viveu até 1869, ano em que se mudou para Recife. Sua atuação como intelectual ganhou impulso em 1875, quando se transferiu em definitivo para o Rio de Janeiro. Nomeado em 1879 para o cargo de Oficial da Biblioteca Nacional, permaneceu na função até 1883. Nessa data, foi aprovado em concurso para professor de Corografia e História do Brasil do Colégio Pedro II. Uma reforma educacional surgida em 1898 colocou-o em disponibilidade e afastou-o da docência. Até seu falecimento, em 1927, Capistrano de Abreu colaborou ativamente na imprensa e dedicou-se a análises históricas e etnográfico-lingüísticas.

Além da língua Kaxinawá (da família Pano), Capistrano de Abreu devotou-se ao exame da língua e da cultura dos Bakairi (da família Caribe). Em 1895, publicou o artigo “Os Bacaeris” na Revista Brazileira, fruto de estudos que desenvolveu entre 1892 e aquele ano. A língua Bakairi ocupou-lhe, ainda, ao que tudo indica, entre 1915 e 1927. Infelizmente, essa segunda temporada de pesquisas não chegou a ter seus resultados publicados.

Merece aplauso a inclusão da obra clássica de Capistrano de Abreu sobre a língua e as narrativas tradicionais kaxinawás na Brasiliana Digital. Com suas mais de seiscentas páginas, o rã-txa hu-ni-ku-ĩ representa uma fonte de valor inestimável para lingüistas, etnólogos e antropólogos. Além, naturalmente, de constituir-se num registro de especial valor para os huni kuin (kaxinawá) que, por conta de sua digitalização, verão facilitado o seu acesso à obra.

Publicada em 1914 e batizada com o nome que os falantes nativos dão à sua língua (rã-txa hu-ni-ku-ĩ, que se pode traduzir como ‘língua dos homens verdadeiros’), ela recebeu o subtítulo “a língua dos caxinauás do Rio Ibuaçu affluente do Muru (Prefeitura de Tarauacá)” e apresenta, além de uma descrição gramatical condensada em onze páginas, mais de uma centena de textos tradicionais, agrupados tematicamente e apresentados em duas colunas: a primeira contendo a narração original em Kaxinawá e a segunda com uma tradução palavra por palavra que segue a ordem sintática do original (o que leva a construções como “mim saia faze para!”, na página 51). Entre as páginas 524 e 546, encontra-se o “Vocabulario brasileiro-caxinauá” com 1781 verbetes. Ainda mais copioso, o “Vocabulario caxinauá-brasileiro” ocupa da página 547 à 621 e reúne 4329 verbetes.

Resultado de um trabalho intenso, duradouro e minucioso, empreendido com o auxílio de dois informantes nativos enviados ao Rio (Borô e Tuxinĩ, a quem Capistrano de Abreu chama “co-autores” da obra), o rã-txa hu-ni-ku-ĩ foi considerado um trabalho exemplar pela comunidade internacional de especialistas em línguas sul-americanas dos anos 1890-1929, que se via frente ao desafio de registrar o mais rapidamente possível culturas julgadas fadadas a desaparecer em pouco tempo por conta do avanço da exploração econômica. Paul Rivet (1876-1958) e Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), dentre outros americanistas de relevo na época, declararam sua admiração pela obra em artigos, resenhas e cartas privadas e apontaram o Kaxinawá como a língua sul-americana melhor descrita até então. 

Como uma primeira versão da obra foi consumida pelo fogo durante o grande incêndio da Imprensa Nacional em 15 de setembro de 1911, o rã-txa hu-ni-ku-ĩ editado em 1914 corresponde a uma segunda tentativa de Capistrano de Abreu de concretizar a publicação de um trabalho sobre a língua e as narrativas tradicionais kaxinawás. Por iniciativa da Sociedade Capistrano de Abreu e com patrocínio de Guilherme Guinle, uma segunda edição do rã-txa hu-ni-ku-ĩ veio a público em 1941, contendo “emendas do autor” levantadas pelos editores em dois exemplares da primeira edição.

Em tudo fiel aos referenciais teórico-metodológicos dos sul-americanistas do início do século XX, o trabalho de Capistrano de Abreu sobre a língua e as narrativas kaxinawás tornou-se um dos únicos a colocar em prática o ideal de descrição lingüística daquela comunidade de especialistas: a investigação a partir dos textos tradicionais, que eram considerados uma porta de entrada privilegiada para a ‘língua real’ das comunidades indígenas".
Texto escrito por Beatriz Christino. Postado originalmente na Biblioteca Digital Curt Nimuendaju.

Queimadas se espalham pelo País

"As queimadas que se espalham pelo País somadas à estiagem estão diminuído reservatórios naturais, rios e córregos. No Pantanal de Mato Grosso, a Baía de Chacororé – terceiro maior reservatório de água doce do Brasil – registra o mais baixo nível em 38 anos. Em Rio Branco, o Rio Acre, principal manancial de abastecimento da capital, está com só 1,90 metro. O recorde, em 2005, é de 1,75 metro.

Como a estiagem na região amazônica se encerra apenas em meados de outubro, ambientalistas acreditam que o quadro deve se agravar. Para Mato Grosso, onde não chove há mais de cem dias, a previsão é de chuvas apenas na segunda quinzena de setembro. Ontem, as queimadas deixaram parte do Acre e Rondônia sem energia elétrica, após o foco atingir o linhão entre Jaru e Vilhena (RO). O número de focos tem crescido a cada dia. O Instituto de Meio Ambiente do Acre emitiu em 24 horas 73 autos por desmates e queimas ilegais. O Estado não registra chuvas há 23 dias. A fumaça que encobriu o pico da Serra da Bodoquena denunciou o incêndio que há três dias consome a Terra Indígena Kadiwéu, em Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul. A região é de difícil acesso".
(no Estadão)

O exército vermelho/FPLP: declaração de guerra mundial


Sekigun-PFLP: Sekai senso sengen é um filme lançado em 1971 pela dupla de japoneses Masao Adachi e Kôji Wakamatsu. Depois de apresentar dois filmes na Quinzaine des Réalisateurs, em Cannes, Wakamatsu e Adachi decidiram juntar-se ao Japanese Red Army em Beirut. Lá eles fizeram esse filme, que documenta as atividades cotidianas dos membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina.

O filme começa definindo a melhor forma de propaganda como a luta armada, e explica: se propaganda é informação, e informar é comunicar a verdade, e a suprema forma de verdade é a luta armada - então a luta armada é a melhor forma de propaganda. E o narrador continua: "é verdade que o sistema mundial de propaganda discursiva influencia enormemente a opinião pública internacional. Mas é pelas pessoas que lutam para libertarem a si mesmas através da luta armada que as coisas são decididas em última instância. Claro que cada um de nós está ciente de que o sistema de propaganda do imperialismo americano é o maior que já apareceu na história humana. Eles dominam as redes mundiais de televisão e de jornalismo, e dão às pessoas uma falsa educação, através de filmes que maliciosamente dizem o que eles querem. As pessoas no Vietnam do Sul, não têm televisão ou jornais próprios, mas eles lutam com a vontade firme - a sua única arma - contra o sistema imperialista. E o que está acontecendo agora? O gigantesco sistema de propaganda dos Estados Unidos não consegue mais convencer as pessoas de que essa guerra é certa. Conforme o tempo passa, o povo norte-americano vai se cansando, e começa a se opor a essa guerra. Isso é propaganda, a nossa propaganda. Propaganda é ação e luta. Essa é a suprema forma de propaganda".

O exército vermelho/FPLP: declaração de guerra mundial é então uma peça de propaganda - não é um documentário padrão, nem uma aula de história. O filme toma parte na história de uma maneira consciente e incisiva. O que Adachi e Wakamatsu fizeram foi criar uma espécie de arma - e o filme define: "as armas são a linguagem dos povos oprimidos".

Em 2009, numa entrevista ao Cahiers du Cinéma, Wakamatsu diz que, depois de realizar esse filme, "os países europeus fecharam-me as portas e ainda hoje, não tenho o direito de visitar os Estados Unidos. Foi um filme que realmente mudou a minha vida e me encurtou as liberdades". Com um tom um pouco amargurado, ele ainda completa: "hoje penso que apenas podemos mudar o Mundo através da via eleitoral".


Vale a pena ver, pois o filme ainda hoje dá o que pensar - sobre as lutas de um passado recente; sobre as lutas futuras; sobre o uso muito concreto da palavra (aqui também "a palavra é uma arma"); sobre o uso da paisagem no documentário (para além de ser uma forma de ocultar aqueles jovens que estavam fazendo treinamento no Líbano); sobre a propaganda da extrema-esquerda; etc. etc. etc.

ps: Engraçado um comentário que lemos em algum lugar sobre esse filme: "se você deseja saber como montar um Kalashnikov (i.e., um AK-47) ou como carregar um cinto de munição em uma metralhadora, então O exército vermelho/FPLP: declaração de guerra mundial definitivamente pode ajudar".

Links pra baixar:
http://hotfile.com/dl/64338442/f4329f0/ThReArm71.part1.rar.html
http://hotfile.com/dl/64350213/df74099/ThReArm71.part2.rar.html
http://hotfile.com/dl/64351726/7d7a30b/ThReArm71.part3.rar.html
http://hotfile.com/dl/64362934/8af159f/ThReArm71.part4.rar.html

Fumaça V

Foto: Altino Machado (in: http://altino.blogspot.com/2010/08/horizonte-perdido.html)

Rio Branco tá osso: o clima tá muito seco, e a fumaça das múltiplas queimadas invade a cidade. Dizem que o verão 2005 também foi assim - quando aconteceu uma das piores secas da Amazônia. Acho que só uma vez estivemos em um lugar assim tão enfumaçado: quando passamos uma semana na Baixada Fluminense, no RJ, por ocasião de um show do Razão Social. A impressão que temos daqui é que o Brasil tá pegando fogo - e está mesmo.

Fumaça IV

"Queimadas no Brasil aumentam 85%, informa Inpe

Esta é a primeira variação positiva para o período janeiro-agosto desde 2007

 O número de focos de queimada no Brasil, acumulado desde 1º de janeiro e até a última quinta-feira, 12, chegou a 25.999, ante 14.019 no mesmo período do ano passado, uma variação, em termos relativos, de 85%.
Reprodução/Inpe
Reprodução/Inpe
Mapa do risco de fogo na América do Sul para o sábado, 14/08; vermelho escuro marca área crítica

Frente fria traz umidade e reduz temperaturas no Centro-Oeste
Incêndio destrói mais de 70 imóveis e deixa dezenas de desabrigados em MT

De acordo com relatório do Instituto Nacional de pesquisas Espaciais (Inpe), esta é a primeira variação positiva para o período desde 2007, quando o número de focos superou os de 2006 em 154%. Nos últimos anos, a tendência vinha sendo de queda, com redução de 70% em 2008 e 20% em 2009.
 As unidades da federação que registraram os maiores aumentos de número de queimadas entre o ano passado e este são Tocantins (407%), Piauí (365%), Distrito Federal (250%). Estados como Maranhão, Minas Gerais, Pará, Goiás e Bahia mais que dobraram o número de focos. As principais reduções ocorreram no Rio Grande do Sul (-63%), santa Catarina (-53%) e Acre (-53%).
Apenas entre o fim da noite de quarta-feira e as 13h30 desta sexta, foram anotados 15.183 focos de queimada no Brasil."

(No Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,queimadas-no-brasil-aumentam-85--informa-inpe,594710,0.htm)

Fumaça III

Agora sim, a coisa ficou feia...

"Acre decreta estado de alerta ambiental

O governo do Acre decretou estado de alerta ambiental por causa de incêndios florestais e queimadas fora de controle. A quantidade de focos cresceu 123% em comparação a 2008 e 587% em relação ao ano passado.
De acordo com a Agência de Notícias do Acre, o decreto levou em consideração advertência do Comitê de Gestão de Riscos Ambientais (CGRA) e foi firmado em encontro extraordinário do grupo. O ar sem umidade, com previsão de frio e ventos, pode tornar mais grave as condições na área rural e nas cidades.
O decreto criou também a Sala de Situação, que funcionará no gabinete do governador e acompanhará em tempo real a situação." (no Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,acre-decreta-estado-de-alerta-ambiental,593576,0.htm).

Fumaça II

Do "Ambiente Acreano":

"RISCO DE FOGO NO LESTE DO ACRE É CRÍTICO

Focos de calor estão sendo detectados por todo o Estado. Falta de chuvas e baixa umidade continuam a favorecer a ocorrência de queimadas.

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Dados do INPE/CTPEC indicam que o risco de fogo no Acre aumentou e agora é crítico em praticamente todo o território do Estado (imagem ao lado, áreas em vermelho escuro).

Entre ontem e hoje pela manhã, focos de calor passaram a ser detectados em praticamente todas as regiões do Acre. Na semana passada, os focos se concentravam apenas na região leste.

Uma avaliação da previsão climática dos próximos dias publicada pelo Dr. Foster Bronw, do WHRC e PZ/UFAC na página do GTP-Queimadas do Forum MAP, indica que as condições para a ocorrência de incêndios florestais no Acre são extremamente favoráveis. Precipitações na região leste do Acre só estão previstas para acontecer entre 13 e 14 de agosto, e mesmo assim em quantidades muito baixas. A umidade relativa do ar deverá estar um pouco mais elevada porém picos de 20-30% acontecerão diariamente nos próximos 3 dias. Um fator que poderá minorar a ocorrência de queimadas sem controle na região será a quase ausência de ventos fortes pelos próximos 3 dias."

Fumaça

Pra fazer um contraditório com uma postagem aí de baixo:

"Fumaça em Rondônia e no Acre chama atenção
Áreas no Acre e em Rondônia estão com problemas de visibilidade por conta da fumaça. Centenas de focos de fogo sobre os dois Estados produziram uma densa camada de fumaça que persiste desde o início da semana. Vários aeroportos da região estão sofrendo com problemas de visibilidade, como o de Rio Branco. Os focos são decorrentes de queimadas, que se alastram nesta época do ano por conta da limpeza de terrenos para o plantio de novas culturas. A falta de chuva agrava o problema e faz com que o fogo se alastre mais rapidamente. A situação tende a piorar. Não há previsão de chuva para a região nos próximos dez dias" - OESP, 8/8, Vida, p.A27.

"National Geographic documentary on Santo Daime"

Esse é o documentário pra TV produzido pela National Geographic sobre o Santo Daime. As imagens foram colhidas na comunidade Fortaleza... É da NG, então tem que dar um desconto. O próprio nome da série que contextualiza o programa sobre o Santo Daime  já diz tudo sobre a perspectiva da NG - "Taboo". Mas é interessante...
Em três partes:
 
http://www.youtube.com/watch?v=Pi4sna7yVoo

http://www.youtube.com/watch?v=f3d3RbtTyK4

http://www.youtube.com/watch?v=HWTsI0IQ8t4

Tapecuim p.III

Imagem do satélite Modis Aqua, da NASA, que congrega os focos de calor detectados nos últimos 10 dias em todo o mundo.

3 filmes de Fernando Pino Solanas



Diretor argentino nascido em 1936, ex "diputado nacional", idealizador da Telesur, Pino Solanas faz do cinema a sua política. O site foriegnmoviesddl.com subiu pra rede 3 filmes dele: Tierra sublevada; Memoria del saqueo; e La dignidad de los nadies.

Vale muito a pena assistir...

Quién alimenta al mundo

Síntese do documento da ETC, feita pelo site GRAIN Biodiversidad (http://www.grain.org/biodiversidad/?id=479). Link para o documento original: http://www.etcgroup.org/en/node/4921.

"Presentamos tres fragmentos de uno de los más recientes documentos de investigación del Grupo ETC, con atisbos y cifras del universo de personas, colectivos, comunidades, grupos, que reivindican el cultivar sus propios alimentos [en su sentido más vasto] en todo el mundo y que son muchos más de lo que luego suponemos. Campo y ciudad. Cultivo, recolección, animales de corral, pastoreo, caza y pesca. Este retrato contradice a una industria alimentaria que presume tener las soluciones para el hambre en el mundo. La edición es responsabilidad de Biodiversidad.

La cadena alimentaria industrial. El modelo agroindustrial habla de una “cadena” alimentaria, con Monsanto en un extremo y Wal-Mart en el otro: una cadena sucesiva de empresas agroindustriales, fabricantes de insumos (semillas, fertilizantes, pesticidas, maquinaria) vinculadas con intermediarios, procesadores de alimentos y comerciantes al menudeo.
Noventa y seis por ciento de toda la investigación agrícola y sobre alimentos ocurre en los países industrializados y el 80 por ciento de esa investigación se ocupa del procesamiento y distribución de alimentos. En la última mitad del siglo pasado, la cadena alimentaria industrial se consolidó tanto que cada eslabón —de la semilla a la sopa— lo domina un puñado de multinacionales que trabajan con una lista de bienes de consumo cada vez más restringida, que tiene a la humanidad en peligro de desnutrición o sobrepeso.
La cadena alimentaria industrial se enfoca en menos de 100 variedades de cinco especies de ganado. Los fitomejoradores corporativos trabajan con 150 cultivos pero se enfocan en apenas una docena. De las 80 mil variedades comerciales de plantas que hay en el mercado, casi la mitad son de ornato. Lo que resta de nuestras mermadas reservas de peces viene de sólo 336 especies, que son dos terceras partes de las especies acuáticas que consumimos. Al perderse biodiversidad, el contenido nutricional de muchos de nuestros granos y hortalizas ha caído entre el 5 y el 40 por ciento, de modo que hoy tenemos que comer más calorías para obtener los mismos nutrientes que antes.
Ante el caos climático, la cadena alimentaria industrial nos impone un régimen de patentes que favorece la uniformidad por encima de la diversidad y refuerza un modelo tecnológico al que le cuesta más tiempo y dinero obtener una variedad diseñada en laboratorio que lograr cientos de variedades convencionales. En resumen, las empresas no saben quiénes padecen hambre, dónde se encuentran o qué necesitan.
El Banco Mundial y muchas agencias de desarrollo bilateral creen en la falacia de que el desarrollo agrícola puede escoger a voluntad qué eslabones de la cadena prefiere aprovechar. Esta visión es ingenua. La razón por la que empresas como Monsanto, DuPont y Syngenta (que controlan la mitad de la oferta comercial de semillas patentadas y más o menos el mismo porcentaje del mercado mundial de pesticidas) se concentran en engendrar cultivos como el maíz, la soya, el trigo y ahora el arroz es porque las grandes compañías procesadoras de alimentos, como Nestlé, Unilever, Kraft y ConAgra pueden manipular sus baratos carbohidratos como relleno (estos cuatro cultivos constituyen dos tercios del aporte calórico para los consumidores estadounidenses) y convertirlos en miles de productos alimentarios (y no alimentarios) que le “dan volumen” a mercancías más caras. A su vez, las empresas procesadoras buscan, por todos lo medios posibles, cumplir las exigencias de las grandes empresas de comercio al menudeo, como Wal-Mart, Tesco, Carrefour y Metro, las cuales demandan productos baratos, uniformes y predecibles en sus estantes y no dudan un instante en intervenir en otros eslabones de la cadena alimentaria para dictar el modo en que deben producirse los alimentos (y elegir cuáles agricultores serán aceptados)
Por medio de una cultura corporativa y mercados compartidos, algunos de los eslabones de la cadena alimentaria han desarrollado fuertes vínculos informales: por ejemplo, Syngenta mantiene una estrecha relación con Archer Daniels Midland; Monsanto con Cargill y DuPont con Bunge.1 El modelo industrial es una cadena cargada de grilletes. Comprar en alguno de los segmentos implica comprar en todos los segmentos del modelo.

Chile: Lenguas indígenas son consideradas Patrimonio de la Nación

"Servindi, 16 de julio, 2010.- Con una importante concurrencia se desarrolló los días 13 y 14 de julio el primer Congreso de las Lenguas Indígenas de Chile en la Universidad de Santiago de Chile (USACH).

En el evento se dio cuenta de la situación actual de los diferentes pueblos indígenas del país, con el objetivo de fortalecer el movimiento indígena, sensibilizar a la sociedad chilena, proponer medidas jurídicas y establecer redes sociales que promuevan la revalorización de las lenguas indígenas.

El encuentro fue auspiciado por la Facultad de Humanidades de la USACH y sirvió para plantear la importancia de rescatar “las lenguas indígenas como riquezas del patrimonio de la Nación”.

Según indicó la académica del Departamento de Educación, Elisa Loncón, la poca valorización de las lenguas indígenas influye en los resultados académicos de la IX Región.

“Los profesores no tienen herramientas y no están formados para enseñar las lenguas madres de estos niños. Por este motivo les va mal en lenguaje y matemáticas, obteniendo bajos resultados” refirió.

También preocupa a Elisa Loncón la atención de salud en sectores del país con alto porcentaje indígena. Recordó el compromiso del actual Presidente que en su primer discurso ofreció crear más hospitales con sistemas médicos que incluyan la medicina tradicional y alternativa mapuche.
Universidad comprometida con la interculturalidad

Alicia Salinas, Coordinadora Nacional del Programa Intercultural Bilingüe del Ministerio de Educación, valorizó el aporte que realiza la USACH.

Indicó que “para el mundo de la enseñanza de las lenguas indígenas es vital el apoyo de las universidades, porque contribuyen a formalizar la enseñanza de la lengua y ademásler permite abrirse hacia la interculturalidad”.

Rodrigo Vidal, Vicerrector de la USACH, mencionó que “en Chile sólo existen cuatro lenguas indígenas vivas: Mapudungun, Quechua, Aymara y Rapa Nui que han sobrevivido gracias a la resistencia de sus propios hablantes” y que constituyen “riquezas del patrimonio de la nación”.

Nabor García, Consejero de la Embajada de España dijo el evento “refleja el interés creciente de todo el problema cultural de los diferentes pueblos indígenas” y valoró que las universidades se interesen pues “permite una aproximación científica, seria e históricamente solvente”.

Mawrianela Cartes, Coordinadora Regional del Programa Educación Bilingüe en la Región del Biobío, destacó que el evento contribuyó a “visibilizar la diversidad cultural de este país que muchas veces está negada”. “Haberse realizado en la capital del país tiene un sentido aún más importante” expresó.

Domingo Namuncura, profesor de la Universidad Academia de Humanismo Cristiano y ex director de la CONADI, reconoció que la temática indígena florece en diferentes espacios académicos y de manera especial en la USACH."

(link: http://www.servindi.org/actualidad/28867)

Demanda americana por mogno ameaça tribos isoladas no Peru

Do Blog da Amazônia:

Indígena murunahua contatado recentemente no sudeste do Peru.


"Relatório da organização Upper Amazon Conservancy (UAC), reforçado pela Survival International, denuncia a exploração ilegal de mogno em grande parte da Reserva Territorial Murunahua, na região do departamento peruano de Ucayalli, na fronteira com o Acre, destinada a proteger etnias indígenas que vivem em isolamento voluntário.

Entre março e abril, a UAC documentou a existência de acampamentos madeireiros e árvores derrubadas ao longo da reserva de 481,5 mil hectares. A reserva, adjacente ao Parque Nacional Alto Purús, serve de refúgio para os últimos grupos de índios isolados.

O relatório da UAC foi lançado apenas um mês após a viagem ao Peru da Secretária de Estado americana, Hillary Clinton, quando encontrou com o presidente Alan Garcia e afirmou que “os Estados Unidos e o Peru estão trabalhando juntos para proteger o meio ambiente”.

A presença de madeireiros em território peruano tem contribuído para forçar que índios isolados procurem refúgio em território brasileiro, no Acre, numa das regiões mais remotas do país. De acordo com a UAC, mais de 80% do mogno que o Peru exporta se destina aos Estados Unidos.

A UAC afirma que a exploração de madeira é “generalizada” na reserva, e que “uma grande rede de estradas para a exploração de madeira” é utilizada por “mais de uma dúzia de tratores”, ligando a reserva a um afluente importante da Amazônia.


Pranchas de mogno abandonadas nas cabecerias do rio Juruá


O relatório revela como os madeireiros estão levando as autoridades peruanas e americanas a crerem que o mogno foi obtido legalmente.

- A exploração ilegal de madeira evidencia que o Perú não está cumprindo seus compromissos ambientais e florestais estabelecidos no Tratado de Livre Comércio que firmou com os Estados Unidos. Além disso, a exploração ilegal viola a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestre, na qual está incluído o mogno - afirma a UAC.

Durante sobrevôo, a UAC constatou balsas com toras de mogno retiradas recentemente, o que indica que o campamento continua sendo usado como um centro de transporte de mogno ilegal obtido da Reserva e do Parque.

Existe um segunda base madeireira que, de acordo com os indígenas, é igual a que está localizada nas cabeceiras do rio Mapuya, que vem sendo usada há vários anos para coletar e transportar mogno da Reserva Murunahua.

Os madeireiros ilegais usam motosserras para transformar as toras de mogno e pranchas largas. A madeira ilegal é transportada para a cidade Pucallpa, através dos rios Mapuya, Inuya y Ucayali. A madeira passa em frente ao posto de controle forestal localizado no Inuya, estabelecido especialmente para evitar o transporte de madeira ilegal.

A madera é retirada com permissões emitidas para oerações florestas legais dentro de concessões florestas autorizadas. As permissões exigem “prueba” de que a madeira foi extraída legalmente e de acordo aos planos de manejo aprovados, mas não de uma área protegida ou não registrada. Quando a madeira é finalmente transportada em caminhões até Lima, conta com toda a documentação necessária para ser exportada aos Estados Unidos e outros mercados internacionais.

Acampamento madeireiro na Reserva Murunahu

Fotos: Chris Fagan/Upper Amazon Conservancy".

A história da história da Copa

"Eu tenho uma memória, graças a Deus, muito boa. Lembro de quase tudo. Agora que eu to meio perdido, mas vou te contar uma história, que eu contei essa história quarenta anos depois.

Tratava-se do seguinte: Em 1978, eu era gerente do Banco Nacional, aqui na Avenida do Contorno, lá no Floresta. E de manhã, era véspera da Copa do Mundo na Argentina. E eu comentava com os companheiros de banco, dizia que me lembrava da Copa de 38. Quer dizer, de 38 para 78, 40 anos tinham se passado.

Aí a turma falou: “Ah, você não lembra nada”. Aí eu disse: “lembro sim, e lembro do primeiro jogo”, que foi Brasil e Polônia, que foi 6 a 5. Naquela época, o Leônidas da Silva perdeu as chuteiras e jogou descalço uma boa parte do tempo. Hoje não pode mais, se alguém perder qualquer coisa do uniforme tem que sair do jogo e vestir, né? Mas eu me lembro que aí, no segundo jogo, o Brasil jogou com a Tchecoslováquia. Essa Copa foi na França. Então, o Brasil empatou com a Tchecoslováquia, em 1 a 1. E o desempate naquele tempo era outra partida, e o Brasil, na terça feira, jogou com o time todo azul, o time azul, o time reserva, todo o time. O técnico, o Ademar mudou tudo, e acabou ganhando da Tchecoslováquia, por 2 a 1.

Muito bem. Naquele tempo também tinha muito pouco time que jogava, não é igual essa Copa agora, que foram 32 times, né? Naquele tempo deviam ser uns 8 ou 10 no máximo. E então, o Brasil ia jogar com a Itália, no dia 26 de maio de 1938. E lá na minha terra, lá no Alto Rio Doce, eu com 12 anos, doido pra ouvir o jogo, eu fazia parte da banda. E então o padre Zé Pinto marcou a procissão pra na hora do jogo. E naquele tempo padre mandava demais, o padre mandava em tudo. Quem rezava, e era quase a maioria, ia pra procissão. E eu também tinha que ir, porque a banda fazia parte lá, tocando. Tinha as três bênçãos. Saía da Igreja da Matriz, descia, no Caxangá tinha uma benção. Passava ali a benção, demorava uns quinze a vinte minutos, saía novamente de procissão, subindo a rua lá da escadinha, e ia pra Igreja do Rosário, pra fazer a segunda benção.

Neste momento, quando passamos em frente à alfaiataria do Seu Lico e o coreto do jardim, tinha só uma pessoa ouvindo o rádio, era um senhor que não era de lá, até, era um fiscal federal, que era do estado do Rio. Ele ficou ali sozinho ouvindo o jogo, da Itália com o Brasil. Quando nós passamos em frente ao coreto, a banda tocando, nós olhamos, eu pelo menos olhei lá pra cima, e ele fez um sinal com o olho assim, que a coisa não tava boa. Aí a procissão andou mais uns vinte, trinta metros, e entrou na igrejinha. A turma toda largou os instrumentos da banda no chão, lá no passeio, e os músicos correram e eu fui atrás. Corremos lá pro coreto. Chegamos lá o Brasil estava acabando de fazer um gol. Mas não conseguiu, acabou sendo eliminado, e perdemos por 2 a 1. Essa é a história de 38.

Aí então, conforme eu estava contando pros companherios em 78 lá no banco, eles começaram a me gozar: “você não lembra disso nada, isso é chute!”. E eu: “eu não, to falando pra vocês, se vocês querem acreditar, bom, se não querem, não acredita”. Mas nesse momento entrou um senhor no banco, o banco já estava na hora do expediente externo, e entrou um homem lá pra pagar uma conta de luz, e não sei o quê. Aí eu falei assim: “ô Geraldo, vem cá”. O Geraldo entrou lá dentro no exepediente do banco. E eu: “ô Geraldo, quê que aconteceu no dia 26 de maio, de 38, dia de Corpus Christi?”. Na mesma hora também ele lembrou: “é, o Brasil perdeu pra Itália, né? E nós até hoje estamos...”

É uma história que eu lembro. E olha que eu já estou com 76, e lembro desses dados de 78, e consequentemente de 38."
(José Nery Matos, 2004)