Entrevista de Chico Mendes à Rádio do Ibase, 1988

Parte 1




Parte 2




Parte 3




Parte 4




(via O Insurgente Coletivo)

A teoria nativa dos Boo-Jwas


"Não podemos exagerar o contraste em relação a nós mesmos, isso porque o interesse geral dos estados burgueses é o interesse particular de suas classes dominantes, conforme os ensinamentos de Marx. Porém, a sociedade capitalista realmente tem um modo distintivo de aparência e portanto uma consciência antropológica definida, também difundida nas disposições teóricas da academia. A teoria nativa dos Boo-Jwas (bourgeois) é de que as consequências sociais são as expressões cumulativas das ações individuais e, por esse motivo, são mais atrasadas do que o estado prevalecente das vontades e opiniões do povo, conforme geradas especialmente a partir de seus sofrimentos materiais. A sociedade é construída como a soma institucional de suas práticas individuais. O locus clássico desse folclore é, claro, o mercado onde o êxito relativo de agentes autônomos individuais e, portanto, a ordem política da economia, é mensurável pelas porções quantitativas obtidas respectivamente nos cofres públicos às expensas de quem interessar possa. Apesar disso, esse processo social é vivenciado por seus participantes como sendo a maximização de suas satisfações pessoais. E, como essas tais satisfações - desde ouvir a orquestra sinfônica de Chicago a ligar para nossa própria casa a cobrar do exterior - requerem a redução de relações e condições sociais a seu menor denominador comum, o do custo pecuniário, com o propósito da alocação racional de nossos recursos limitados, a impressão que se tem é de que a cultura é organizada pela economicidade metódica do povo. Essa impressão é duplicada pelo processo político democrático, onde qualquer pessoa vale por um (voto) e assim os poderes dominantes são representados como sendo a "escolha popular". As pressuposições prevalecentes, quantitativas, populistas e materialistas das nossas ciências sociais não podem ser acidentais - senão não há antropologia".

Marshall Sahlins, em Ilhas de História