Entrevista de Chico Mendes à Rádio do Ibase, 1988

Parte 1




Parte 2




Parte 3




Parte 4




(via O Insurgente Coletivo)

A teoria nativa dos Boo-Jwas


"Não podemos exagerar o contraste em relação a nós mesmos, isso porque o interesse geral dos estados burgueses é o interesse particular de suas classes dominantes, conforme os ensinamentos de Marx. Porém, a sociedade capitalista realmente tem um modo distintivo de aparência e portanto uma consciência antropológica definida, também difundida nas disposições teóricas da academia. A teoria nativa dos Boo-Jwas (bourgeois) é de que as consequências sociais são as expressões cumulativas das ações individuais e, por esse motivo, são mais atrasadas do que o estado prevalecente das vontades e opiniões do povo, conforme geradas especialmente a partir de seus sofrimentos materiais. A sociedade é construída como a soma institucional de suas práticas individuais. O locus clássico desse folclore é, claro, o mercado onde o êxito relativo de agentes autônomos individuais e, portanto, a ordem política da economia, é mensurável pelas porções quantitativas obtidas respectivamente nos cofres públicos às expensas de quem interessar possa. Apesar disso, esse processo social é vivenciado por seus participantes como sendo a maximização de suas satisfações pessoais. E, como essas tais satisfações - desde ouvir a orquestra sinfônica de Chicago a ligar para nossa própria casa a cobrar do exterior - requerem a redução de relações e condições sociais a seu menor denominador comum, o do custo pecuniário, com o propósito da alocação racional de nossos recursos limitados, a impressão que se tem é de que a cultura é organizada pela economicidade metódica do povo. Essa impressão é duplicada pelo processo político democrático, onde qualquer pessoa vale por um (voto) e assim os poderes dominantes são representados como sendo a "escolha popular". As pressuposições prevalecentes, quantitativas, populistas e materialistas das nossas ciências sociais não podem ser acidentais - senão não há antropologia".

Marshall Sahlins, em Ilhas de História

Dizzy Gillespie & Trio Mocotó


"Entre os brasileiros reencontrei a sonoridade ideal, porque, para mim, música boa é aquela que, de um modo ou de outro, tem cor negra".

Pra baixar: http://www.4shared.com/file/0ToM-iPh/DGBTM.html

Fumaça

Fumaca 2011 1

 

Fumaca 2011 2

 

IMG 7427

 

IMG 7431

 

IMG 7432

(as duas primeiras fotos estão no sítio Ambiente Acreano)

"Grandes e polêmicas obras serão chamadas, no Brasil, a ‘salvar’ o capitalismo global": entrevista com Oswaldo Sevá

Imperdível a entrevista com Oswaldo Sevá, publicada pelo Correio Cidadania no dia 11/08/2011:

"Enquanto o capitalismo global dá mostras inequívocas de ter adentrado no segundo e esperado momento de crise e exaustão, após o estouro detonado pelas hipotecas ‘subprime’ nos Estados Unidos em 2008, o capitalismo à brasileira caminha a passos largos. Uma das áreas na qual vem há anos atuando de modo contundente, afinado com seguidos governos, e contando com a sua cumplicidade, é no setor elétrico.

Oswaldo Sevá Filho, engenheiro mecânico, doutor em Geografia e docente da Universidade Estadual de Campinas, entrevistado do Correio da Cidadania, é um conhecido e contumaz crítico das grandes obras hidrelétricas que estão sendo tocadas Brasil afora, a exemplo de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte, no rio Xingu. Trata-se de empreendimentos originários de uma visão que nem poderia ser gravada como desenvolvimentista, mesmo que a qualquer custo, visto não estar em curso no país nada que possa ser cunhado como um ‘projeto de desenvolvimento’. Bem longe disto, está em andamento no Brasil um plano para acelerar o crescimento em meio à crise estrutural do capitalismo.

Para entender o que acontece no setor elétrico em meio a tal lógica, Sevá traz à luz os poderosos grupos de interesse e lobbies atuantes no setor. “É importante entender que os Sarney são bem mais do que coronéis do Maranhão e donos de uma facção do PMDB, são lobistas e intermediários da “dam industry” desde a época da implantação dos projetos Carajás e Tucuruí no Pará. São verdadeiros articuladores dos negócios de empresas como a Camargo Correa, Alcoa, a Vale, assim como a própria presidente, desde o tempo de ministra de Minas e Energia, é uma interlocutora privilegiada do grupo Suez–Tractebel”.  Distante das discussões partidárias, que pouco significam para o engenheiro no atual momento histórico, Sevá enxerga as ferrenhas disputas políticas, às quais temos assistido pela mídia, como meros dissimuladores, cujo objetivo é esconder a guerra econômica, a luta ideológica e a luta de classes, que continuam os motores da história.

As conseqüências desse processo ainda estão, hoje, bem mais à vista da população do que a sua capacidade para interpretá-las e agir sobre elas. São diárias as notícias que dão conta da grande dimensão que assume a devastação de terras, na Amazônia em especial; do desrespeito e indiferença frente às condicionantes ambientais; do elevado uso de agrotóxicos, em detrimento da saúde e da qualidade de vida; dos povos e comunidades tradicionais deslocados por grandes e polêmicas obras. Fenômenos que se interagem em proveito do predomínio crescente do agronegócio em terras brasileiras, forçando a reprimarização de nosso comércio exterior, aliada às cifras de queda na produção e exportação de produtos industriais elaborados.

A atual crise sistêmica internacional, com a avalanche de Estados em processo falimentar, após salvaguardarem os lucros da grande finança internacional, deverá levar a mais uma penosa rodada de socialização de perdas. A estas perdas se somará o destino da economia interna, movida por grandes empreendimentos e refém de seus interesses.


1974

"A conclusão geral que surge é que a hipótese de extensão ao conjunto do sistema capitalista das formas de consumo que prevalecem atualmente nos países cêntricos não têm cabimento dentro das possibilidades evolutivas aparentes desse sistema. E é essa a razão pela qual uma ruptura cataclísmica, num horizonte previsível, carece de verossimilhança. O interesse principal do modelo que leva a essa previsão de ruptura cataclísmica está em que ele proporciona uma demonstração cabal de que o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio de uma minoria. O custo, em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida é de tal forma elevado que toda a tentativa de generelizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco a sobrevivência da espécie humana. Temos assim a prova cabal de que o desenvolvimento econômico - a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos - é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de forma irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas, como desconhecer que essa ideia tem sido de grande utilidade para mobilizar enormes sacrifícios para legitimar a destruição de formas de culturas arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo? Cabe, portanto, afirmar que a ideia de desenvolvimento econômico é um simples mito. Graças a ela, tem sido possível desviar as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as importações e o crescimento. A importância principal do modelo de Os Limites do Crescimento é haver contribuído, ainda que não haja sido o seu propósito, para destruir esse mito, seguramente um dos pilares da doutrina que serve de cobertura à dominação dos povos dos países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capitalista".

Celso Furtado, em O Mito do Desenvolvimento Econômico. E lá se vão 37 anos...

"Uma outra Cultura"

"Toda vez que impomos nossa concepção e nossa invenção da realidade sobre uma outra cultura, seja no curso do trabalho antropológico, missionário, governamental ou em prol do 'desenvolvimento', transformamos sua criatividade nativa em algo arbitrário e questionável, em um mero jogo de palavras simbólico. Ela se torna 'uma outra Cultura'..."

Roy Wagner, em "A Invenção da Cultura"

 

Márcio Lacerda ataca novamente

Os dois vídeos postados abaixo retratam mais uma maracutaia da prefeitura de Belo Horizonte para converter um espaço público em mecanismo de acumulação para o capital privado. O Mercado Distrital do Cruzeiro está ameaçado. Funcionando desde 1974, ele é um importante espaço de convivência, para onde convergem pessoas de diferentes classes sociais e com objetivos diversos. A prefeitura quer entregá-lo para a empresa de engenharia Santec, que pretende construir ali um grande estacionamento e um centro comercial aburguesado. No entanto, os moradores do Cruzeiro não estão dispostos a engolir mais esse sapo.

Mais tempo para as florestas

Mais tempo para as florestas

(artigo na FDS de 01/05/2011)

MARINA SILVA


Proponho que Dilma faça um chamamento à classe política e à nação para que discutamos uma política nacional de gestão sustentável de nossas florestas



É extremamente preocupante a forma como está sendo conduzido o debate em torno da atualização da principal lei que protege nossas florestas e nossa biodiversidade: o Código Florestal.
O que tem pautado a ação dos que querem modificar a legislação às pressas parece limitar-se ao interesse imediato, que não leva em conta questões estratégicas, quando sabemos que essa discussão diz respeito à vida de todos nós: as florestas prestam um serviço inestimável de proteção, regulação climática e hídrica, essencial para nossa economia e para a produção agrícola e de energia.
As perdas florestais avançam assustadoramente em todo o mundo, inclusive no Brasil. Já perdemos 93% da mata atlântica, quase metade do cerrado e da caatinga e quase 20% da Amazônia. Ao mesmo tempo, temos mais de 60 milhões de hectares de terras agrícolas que foram degradadas e estão abandonadas, como resultado de um modelo agrícola que precisa mudar.
O cerne das mudanças deve ser o de melhorar a proteção das florestas que nos restam, de criar políticas de incentivo que promovam o desenvolvimento do setor agrícola e florestal, gerando emprego e renda em uma escala muito maior.
Deve ser o de discutir os ajustes necessários para que os produtores rurais possam superar os passivos ambientais e para que nossa agricultura dê um salto de qualidade e produtividade, com sustentabilidade. É a nossa riqueza natural que nos permite ser um dos campeões mundiais de produção agrícola.
Não usar com sabedoria esses recursos é matar a galinha dos ovos de ouro. Quando discutimos o destino das florestas, estamos projetando o Brasil que queremos. Estamos definindo o papel que o país terá no mundo, o tipo de economia e qualidade ambiental que teremos.
Por isso, é absurdo opor produtores rurais e ambientalistas, produção agrícola e meio ambiente.
Mas o absurdo existe e considero que é na política que está o nosso maior problema. É na qualidade do debate e na forma como ele está sendo conduzido na Câmara dos Deputados. Eivado de preconceitos e falsas alegações de que quem defende as florestas estaria a serviço de interesses internacionais, ou, pior, de que a preservação implicaria a diminuição da produção de alimentos e que, com isso, haveria aumento de preços.
Isso nos faz lembrar dos momentos que antecederam a abolição da escravatura no país, quando parte dos produtores rurais bradava que sem os escravos o Brasil rural estaria falido e não haveria quem produzisse comida para nossas mesas.
Por isso, proponho que o Executivo assuma o protagonismo dessa discussão, empenhando-se em construir uma proposta bem estruturada, que atenda aos interesses de toda a sociedade, considerando o que dizem os cientistas brasileiros, com o fortalecimento da governança pública e a criação dos incentivos para o cumprimento da legislação ambiental.
Proponho que a presidente Dilma faça um chamamento à classe política e à nação para que, nos próximos meses, discutamos uma política nacional para a gestão sustentável de nossas florestas e de nossos recursos naturais.
Para tanto, poderíamos adiar o prazo de averbação da reserva legal, previsto para 11 de junho, de forma que tenhamos um ambiente menos tensionado para o diálogo.
Cabe ao governo a responsabilidade de colocar o país no caminho da sustentabilidade e impedir o desmonte da legislação ambiental.
Nos últimos 16 anos, atravessamos dois governos com muitas tentativas de mudanças na legislação.
Nesse período, a sociedade impediu que houvesse um retrocesso.
Agora, cabe a uma mulher a tarefa de promover o encontro e a mediação para a superação do impasse, para a construção de um caminho que integre e projete um futuro melhor para todos.

MARINA SILVA, professora de história, foi candidata à Presidência da República pelo PV em 2010, ministra do Meio Ambiente (2003-2008) e senadora pelo Acre (1995-2011). Site: http://www.minhamarina.org.br.

Neodesarrollismo

"–Cuando se habla de alternativa en el Cono Sur, generalmente se postula al neodesarrollismo contra el neoliberalismo. ¿Cuáles serían los rasgos alternativos a esta vía neodesarrollista que hoy es la que tiene un consenso relativo en la región?

–El centro del problema no es el neoliberalismo. El centro del problema es el capitalismo. El neoliberalismo es una forma que asume el capitalismo, una forma concentrada en el poder que tienen las corporaciones y el capital financiero-especulativo. El capitalismo puede crear nuevas formas ideológicas, políticas, simbólicas, y un modo de reinventarse y lograr legitimidad a través de estas formas que ni siquiera son keynesianas, sino neodesarrollistas. Y fundamentalmente implican pensar que si nosotros explotamos la naturaleza vamos a tener recursos para hacer obra social. Eso es un engaño; como fue aquello que se decía en la época del neoliberalismo: que si privatizábamos absolutamente todo, íbamos a tener estabilidad económica. Finalmente, nunca tuvimos estabilidad económica. Igual ahora: si explotamos todos los recursos de la naturaleza, tampoco vamos a tener recursos para el sector social, ni tampoco recursos para el pleno empleo."

(Trecho da entrevista de Pablo Dávalos ao Página 12)


O Brasil cor-de-rosa de Dilma

"Nós temos hoje uma janela de oportunidade única. Além disso temos petróleo, biocombustível, hidrelétrica, minério e somos uma potência alimentar. Não queremos ser só "commoditizados". Queremos agregar valor. (...)

Que outro país no mundo tem a reserva de petróleo que temos, que não tem guerra, não tem conflito étnico, respeita contratos, tem princípios democráticos extremamente claros e uma forma de visão do mundo tão generosa e pró-paz? (...)

Um país com as raízes culturais que nós temos, que tem uma cultura tão múltipla, e que tem esse gosto pelo consenso, pela conversa, tudo isso caracteriza uma contribuição que o Brasil pode dar para a construção da paz no mundo. Acho que o mundo nos vê como um país amigável. (...)"

(em entrevista para o Valor)

 

Jirau: o desastre anunciado



O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado de Rondônia ajuizaram uma Ação Civil Pública (ACP) com pedido liminar contra a mudança de localização da usina de Jirau, no rio Madeira. Isso aconteceu em 25 de agosto de 2008.  A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Consórcio Energia Sustentável do Brasil (Enersus), hoje ESBR, são os réus da ação.

Os autores da petição inicial, o Procurador MPF de Rondônia, Heitor Alves Soares e a Promotora de Justiça do Estado de Rondônia, Aidee Maria Moser Torquato Luiz, pediram a anulação do Leilão n° 005/2008 e do respectivo contrato de concessão firmado entre a União e o consórcio ESBR. Para o MP o IBAMA não deveria ter concedido a Licença de Instalação que autorizou a construção do empreendimento na nova localização, 9,2 quilômetros rio abaixo,  proposta pelos empreendedores.

Essa alteração em Jirau que aconteceu depois da emissão da licença ambiental de localização e do leilão,  se tornou um precedente em processos de licenciamento de outras hidrelétricas, como no caso perigoso de Belo Monte. O MPF do Pará já ajuizou uma ACP justamente questionando as alterações no projeto de Belo Monte realizadas pós-leilão.

Os empreendedores de Jirau, na época, justificaram que as mudanças na localização da usina levariam a uma economia de R$ 1 bilhão, quase 12% do investimento total. Anunciaram a entrega da energia se daria antes da data prevista em contrato. Jirau já está no terceiro ano de construção e o consórcio trabalhava para fazer funcionar as primeiras turbinas em março de 2012.

Entre os benefícios prometidos com a alteração do projeto estavam a redução dos impactos ambientais, a redução do volume de escavações, redução dos custos e antecipação da geração. Mas parece que alguma coisa deu muito errado.

Já no acórdão do TCU sobre as contas de Jirau para acompanhar o leilão e outorga de concessão ficaram patentes algumas inconsistências nos números apresentados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Havia necessidade de adequação dos custos indiretos, dos preços dos equipamentos eletromecânicos, seria preciso considerar a questão da linha de transmissão não prevista no orçamento, que terá que levar a energia por 130 quilômetros até a subestação nas proximidades de Porto Velho, falhas de projeto, revisão da vazão no vertedouro e falta do detalhamento do custo global da obra.

Apesar de tudo, independente das recomendações do TCU, Jirau foi licitada. Uma briga entre os desenvolvedores do projeto, Furnas e Odebrecht (que já haviam arrematado o leilão da usina de Santo Antônio) e os vencedores do leilão de Jirau, GDF Suez e Camargo Corrêa, chegou à justiça. Os primeiros com o gosto amargo da derrota pela perda de Jirau, uma surpresa para o setor. Isso inviabilizou os ganhos de escala, planejados por Furnas e Odebrecht, com a construção das duas usinas – Santo Antônio e Jirau.

O investimento total previsto para Jirau permaneceu próximo aos R$ 9 bilhões, mesmo depois que a ESBR anunciou, em 2008, as alterações no projeto. Não só não houve a tal redução de R$ 1 bilhão como vai ser preciso um aditivo de R$ 900 milhões ao contrato para as obras civis, segundo as notícias de hoje (10).   Atualmente o custo de Jirau atingiu os R$ 13 bilhões e o consórcio ESBR se queixa do aumento no volume das escavações no local onde afirmaram que seria menor.

Erro de cálculo ou estratégia para obter mais dinheiro do BNDES, nunca se saberá, já que não dá para aferir quanto já foi escavado ou qual era a previsão original. O consórcio ainda terá que resolver o problema da falta de clientes para absorver os 30% da produção a serem vendidos no mercado livre com preços em queda. Quem vai encarar os mais de R$ 130 Mwh que, nas contas do consórcio, viabilizariam o investimento? Tem mais ainda. A produção antecipada não vai poder ser distribuida em conseqüência do atraso nas linhas de transmissão.

Não é à toa que a GDF Suez está tirando o time de campo e repassando suas ações em Jirau para a subsidiária, Tractebel.

Isso é o que se pode chamar de um desastre anunciado.

Funk-rock africano

Rikki Ililonga  Musi O Tunya Dark Sunrise

DOWNLOAD: RIKKI ILILONGA & MUSI-O-TUNYA

- DARK SUNRISE - 1973~1976 - 320 Kbps -
CD1: http://www.megaupload.com/?d=RRIDHQNM
CD2: http://www.megaupload.com/?d=FLEZHC4Q

Via http://republicadefiume.blogspot.com/

Você duvida da merda que eles estão fazendo no Madeira?

No EcoAmazônia:
(no canto esquerdo, no meio da tela, tem um botão verde: clique encima dele e arraste-o pra direita...)

 

"De volta ao leninismo?"

Na Folha de S.P. de hoje:


RUBENS RICUPERO

De volta ao leninismo?


Essência era concepção do desenvolvimento como a acumulação material sem preocupação com efeitos


O PACOTE DE afrouxamento das regras para licença ambiental preparado por Brasília justifica indagar se o novo governo estaria voltando ao célebre lema leninista: "o comunismo são os sovietes mais a eletrificação".
Não me refiro, é claro, ao defunto comunismo e aos olvidados sovietes. A essência do lema era a concepção simplista do desenvolvimento visto como mera acumulação material de obras sem preocupação com os efeitos sobre as pessoas ou a natureza.
O resultado dessa mentalidade foi converter a finada União Soviética no maior canteiro de destruição ambiental do planeta, da secagem do Mar de Aral à explosão da usina nuclear de Chernobyl.
O comunismo e os sovietes acabaram há muito tempo. Já os danos ambientais provaram ser irreversíveis, constituindo, ao lado dos milhões de vítimas do stalinismo, testemunho imperecível da loucura bolchevista. Estarão destinados a esse triste papel os elefantes brancos que desejamos construir a toque de caixa e sem incômodas cautelas ambientais?
Planejado para produzir "choque de gestão ambiental", o pacote é apresentado como fruto do razoável desejo de reduzir custos e exigências excessivas. Se for só isso, não haverá o que dizer. Mas então por que introduzir as mudanças por decretos cozinhados no segredo de gabinetes acessíveis apenas aos lobbies econômicos?
O atual governo e o maior partido de sua base de apoio se orgulham de defender a democracia participativa. Por que motivo ela não valeria para tema tão sensível como o do impacto das grandes obras sobre as tribos indígenas e a natureza?
Que razões haveria para temer audiências públicas com a participação de especialistas capazes de submeter as modificações propostas ao crivo da ciência e da razão?
Pode haver exageros em certas exigências ambientais. Nesse caso é preciso examinar se o motivo está na insuficiência de recursos humanos e materiais dos órgãos de licenciamento ou em atitudes sem justificativa científica e técnica.
Acaso nós dispomos desse diagnóstico? Há consenso mínimo entre estudiosos acerca das raízes do problema?
A preocupação pode parecer exagerada e prematura. Temos razões de sobra, porém, para desconfiar de medidas anunciadas como pacotes e choques, haja vista o saldo de desastres que tal abordagem produziu na área econômica.
Tampouco se deve falar aqui em abrir crédito de confiança a governo novo. Primeiro porque, longe de serem novos, os personagens em evidência são os mesmos que em passado recente se celebrizaram pelos conflitos responsáveis pela demissão da ministra Marina Silva e inúmeros respeitados técnicos, o último deles o presidente do IBAMA sacrificado semanas atrás.
Em segundo lugar porque os dois projetos emblemáticos de tudo o que é irracional e predatório no falso desenvolvimentismo -Belo Monte e o trem-bala- continuam impávidos na trajetória para se juntarem aos demais escombros que povoam nosso cemitério de elefantes.
A não ser que a razão real de tais projetos absurdos seja a cupidez dos caçadores de comissões. O que levava o saudoso Mario Henrique Simonsen a suspirar: "É melhor em certos casos pagar a comissão e não fazer o projeto"!

 

Cocalero (Alejandro Landes - 2007)

Documentário sobre a eleição de Evo Morales e o movimento cocalero na Bolívia (uma espécie de Entreatos boliviano...). Pra baixar: http://www.megaupload.com/?d=TZ7ZGC5A.

Cocalero0701(via http://filmespoliticos.blogspot.com/)

"Tribo nômade no Maranhão enfrenta madeireiros e colonos"

Awá

Índio Awá no cenário de destruição de suas florestas

"Relatório da Fundação Nacional do Índio (Funai) revela que a tribo nômade Awá, no Maranhão, foi a mais afetada em 2009 com desmatamento de territórios indígenas na Amazônia Legal.

A organização Survival International obteve o relatório e o classificou de “chocante”. Segundo a organização, baseada em Londres, cerca de 60 a 100 Awá conseguiram permanecer isolados, mas o seu último refúgio está sendo destruído.

Leia mais:

Índios realizam protesto para provar que existem

Índios sem contato fogem dos madeireiros no MA

O território Awá tem sido invadido por enorme afluxo de madeireiros e colonos, mas praticamente nada foi feito para retirá-los, apesar das autoridades estarem cientes de suas identidades.

O relatório mostra que 31% da floresta no território Awá foi derrubada ilegalmente. A tribo vive em três das cinco áreas indígenas que mais sofreram desmatamento em 2009 – o último ano para o qual as estatísticas são disponíveis.

Existem cerca de 360 Awá contatados, que vivem em diversas comunidades. Imagens de satélite mostram que o desmatamento no Maranhão aumentou muito nas últimas duas décadas e agora está ocorrendo próximo ao local onde índios isolados foram avistados.

- Os madeireiros vão acabar com toda a área. A área é índio. Fico com raiva com os madeireiros.. raiva mesmo. Acabou toda a caça, e os meus filhos passam fome - disse o índio Pire’i Ma’a a Survival.

Os Awá estão ameaçados pela exploração madeireira e o desmatamento. Alguns pararam totalmente a prática da caça, pois se sentem ameaçados pelos madeireiros ilegais que trabalham nas proximidades.

Há duas semanas, o seriado Planeta Humano, da BBC, mostrou mulheres Awá cuidando e amamentando filhotes de macacos órfãos. Um antropólogo brasileiro disse que a tribo enfrenta um genocídio.

Em janeiro, um funcionário da Funai declarou no programa Fantástico, da TV Globo, que “se não houver ação rápida e emergencial, o futuro desse povo é a extinção”.

Os impactos devastadores do desmatamento sobre os Awá será destaque no programa da BBC The Chinese are Coming (Os chineses estão vindo), que será exibido pela BBC nesta terça-feira (15), na Inglaterra.

Como uma tribo de caçadores-coletores, uma das duas únicas tribos nômades remanescentes no Brasil, os Awá dependem totalmente da sua floresta para sobreviver. Muitos deles morreram em massacres brutais nas mãos de fazendeiros e madeireiros.

O contato entre esses índios e os invasores pode ter efeitos devastadores, pois os índios apresentam baixa resistência a doenças externas. A legislação brasileira exige que a terra Awá seja protegida para os índios, mas as autoridades falharam em agir.

- Estamos assistindo a uma tragédia se desenrolando diante dos nossos olhos – e a causa da mesma é simplesmente um fracasso total das autoridades do Brasil para defender a lei e proteger o território Awá - disse o diretor da Survival, Stephen Corry."

O debate num jornal de hoje.

Na Folha de SP de hoje:

São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES
Os esforços do governo para construir a usina de Belo Monte devem ser mantidos?

SIM

A razão das hidrelétricas

LUIZ PINGUELLI ROSA

O setor elétrico brasileiro está sob duplo bombardeio na mídia.
Têm ocorrido quedas de energia elétrica com frequência acima do normal. Não há falta de capacidade instalada, como no racionamento de energia em 2001. Na época, faltaram investimentos para expansão do sistema; hoje, o problema está na transmissão e na distribuição.
Por outro lado, os ambientalistas criticam a construção de Belo Monte. No fundo, a questão não é Belo Monte, mas fazer ou não hidrelétricas de potência significativa, em particular na região Norte, onde está a floresta amazônica, foco de justas preocupações ambientais.
Está na região Norte a maior parte do potencial hidrelétrico do Brasil, que possui os maiores recursos hídricos do planeta: 8,2 km3/ano, seguido da Rússia, com apenas 4,5, e do Canadá, com 2,9. Apesar disso, ficamos em quarto lugar em capacidade instalada de hidrelétricas, atrás de China, EUA e Canadá.
Usamos apenas cerca de 30% do potencial hidrelétrico nacional, percentual este que supera 70% na Noruega, seguida de perto por Japão, Canadá e EUA. Entretanto, a hidroeletricidade representa 85% da nossa geração elétrica, só superada pelo Paraguai e pela Noruega.
Deve o país abrir mão de utilizar essa energia? Creio que não. Mas não pode fazê-lo a qualquer preço.
Devem ser cumpridas as restrições ambientais necessárias.
O preço da energia de Belo Monte é de R$ 68/MWh, enquanto nas termelétricas novas é de R$ 140/MWh, e há antigas que chegam a R$ 400/ MWh quando operam em caso de escassez de água nas hidrelétricas.
O investimento previsto é de R$ 20 bilhões, definidos no leilão, embora documento do consórcio vencedor fale agora em R$ 26 bilhões, pretendendo vender 20% da energia para consumidores livres a preço maior. Aí está um problema a ser resolvido pelo consórcio, pois deverá ser obrigado a manter o preço de R$ 68/MWh para a rede pública.
A área inundada se restringe praticamente àquela que o rio já ocupa na sua variação sazonal. Ela tem 516 km2, bem menor que Itaipu, com 1.300 km2. A usina de Balbina tem 0,1 W/m2 e Tucuruí tem 2,9 W/ m22: Belo Monte terá 21 W/m2.
Mas há um problema, que é a redução da água na Volta Grande do Xingu, o que preocupa moradores ribeirinhos. A solução é garantir uma vazão mínima.
Não haverá reservatório para acumulação, como fazem as hidrelétricas antigas do sistema interligado. Para reduzir os impactos, perdeu-se a capacidade de regularizar a vazão, reduzindo a energia assegurada. A potência máxima de Belo Monte é de 11 GW e a média é de 4,6 GW. A relação desses dois valores dá o fator de capacidade de 42%, bem menor que os de Jirau e de Santo Antônio.
Entretanto, em geral, as hidrelétricas brasileiras têm fator de capacidade pouco acima de 50%. Esse fator é de, em média, 21% nas hidrelétricas na Espanha, de 32% na Suíça, de 35% na França e no Japão, de 36% na China e de 46% nos EUA.
A operação de Belo Monte não pode ser vista isoladamente, pois ela estará no sistema interligado, no qual há transmissão de energia de uma região às outras.
Quando Belo Monte gerar 11 GW, ela vai economizar água em reservatórios de outras usinas, que reduzirão sua geração. E essa água guardada permitirá gerar energia adicional nessas usinas.
É natural que os ambientalistas pressionem o governo. Apoiei a então ministra do governo Lula, Marina Silva, quanto às exigências impostas para as usinas do rio Madeira. No final, chegou-se a uma solução para o licenciamento de Jirau e de Santo Antônio pelo Ibama.
Há anos, obras como a de Tucuruí produziram impactos muito grandes. O canteiro de obra causou uma concentração de pessoas abandonadas à própria sorte após a obra. Isso tem de ser evitado.

LUIZ PINGUELLI ROSA 68, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi presidente da Eletrobrás (2003-2004).


São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES
Os esforços do governo para construir a usina de Belo Monte devem ser mantidos?

NÃO

O futuro da energia no retrovisor

MARCELO FURTADO

O Brasil precisa de energia para seguir crescendo. Mas não precisa de Belo Monte. Um estudo do Greenpeace lançado em novembro, o (R)evolução Energética, mostra que o país pode suprir suas necessidades energéticas investindo em fontes de geração renovável, como a eólica e a solar, e dispensando a construção de megahidrelétricas na região da Amazônia.
Em 2050, mostra o estudo, o Brasil pode ter uma matriz elétrica com 93% de participação de energias renováveis, eliminando completamente a geração à base de carvão, de diesel e a geração nuclear.
O cenário energético de nosso estudo custa, pasmem, R$ 88 bilhões a menos do que o proposto pelo governo para os próximos 40 anos.
Ele indica também que a aposta nas renováveis não é apenas mais barata. Ela geraria 1,2 milhão a mais de empregos e produziria seis vezes menos emissões de gases do efeito estufa em comparação aos planos da burocracia federal. Com tantas vantagens, por que ainda estamos investindo em grandes hidrelétricas na Amazônia?
A construção de Belo Monte provocará um desmatamento de 12 mil hectares, a movimentação de 230 milhões de metros cúbicos de terra -mais do que na obra do Canal do Panamá- e a abertura de 260 quilômetros de estradas no canteiro de obras. Terminada a obra, a usina obrigará ainda a remoção forçada de 20 mil pessoas.
Os efeitos negativos sobre a biodiversidade e os indígenas que dependem do rio Xingu estão evidentes na relutância do Ibama em licenciar a usina de Belo Monte.
Apesar de tantos questionamentos, Lula declarou que faria Belo Monte "na lei ou na marra". A presidente Dilma escolheu o segundo caminho, constrangendo o Ibama a conceder uma autorização para a instalação do canteiro de uma obra que ainda está para ser licenciada.
Se, do ponto de vista socioambiental, a construção de Belo Monte tem tudo para ser um desastre, do ponto de vista econômico ela também não faz sentido.
As obras civis vão custar R$ 15,6 bilhões. Com esse número, oficial, fica difícil acreditar que o valor final do projeto será de R$ 25,8 bilhões, como recentemente anunciado. Há um ano, o valor da obra estava em R$ 19 bilhões. Não houve, nos últimos 12 meses, uma inflação capaz de justificar tamanho salto de preço.
A discussão sobre Belo Monte não é sobre a tecnologia de geração hidrelétrica, mas sobre o tamanho da obra e sua localização. O modelo proposto pelo Greenpeace dialoga com o Brasil de hoje e do futuro, propondo uma expansão da geração energética a partir de fontes como a solar, a eólica, PCH (pequenas centrais hidrelétricas) e biomassa.
Essas fontes, particularmente biomassa e a eólica, são capazes de trazer a segurança energética que o país precisa ao longo do ano, uma vez que garantem o suprimento justamente nos meses de seca, em que a geração das hidrelétricas é muito mais baixa.
Belo Monte terá geração extremamente variável ao longo do ano e vai apenas repetir esse padrão, que contribui para o deficit de energia nos meses secos, remediado com o acionamento de termelétricas movidas a combustíveis fósseis.
O Brasil tem tudo para ser a nação com a matriz elétrica mais limpa do planeta. Belo Monte é sinal de que o governo não busca o futuro.
Quer apenas perpetuar o passado, lavando as mão em relação à nossa geração e às que estão por vir.

MARCELO FURTADO é diretor-executivo do Greenpeace no Brasil.

"Direito à não-vizinhança"

Artigo do sertanista José Carlos Meirelles, no Estadão:

"Nas cabeceiras dos Rios Acre, Iaco, Chandless, Purus, Envira,Tarauacá, Jordão, Juruá, Madeira, Tauhamanu, De Las Piedras e Madre de Dios, nas terras que nunca alagam devido à proximidade da Cordilheira dos Andes, habitavam inúmeros povos indígenas, em sua grande maioria pano e aruaque.

Gleison Miranda/Divulgação

As aldeias eram construídas longe da calha dos rios maiores, nas cabeceiras de pequenos igarapés, isentos das nuvens de piuns, catuquis e carapanãs, que infestam as margens das cabeceiras dos grandes rios de água branca. Criou-se ali uma cultura de terra firme, de caçadores que tinham mais intimidade com a mata do que com os rios, de povos que não usavam canoas, que só cruzavam os rios na época da seca, limitando sua ocupação territorial na época das chuvas.

A maioria desses índios usava o caucho, um elastômero retirado da árvore do mesmo nome, para criar artefatos. A descoberta pelo homem branco dessa matéria-prima modificou radicalmente a vida dos índios. Os caucheiros utilizaram grupos contatados, principalmente os ashanincas, para expulsar e matar todos os grupos que encontravam.

Pelo lado brasileiro, as empresas seringalistas subiam os rios se estabelecendo, expulsando e matando os índios. Essa compressão das empresas caucheiras e seringalistas foi um dos processos mais brutais de extermínio de povos de que se tem notícia.

Então como é possível que ainda hoje existam povos isolados nessa região? Um conjunto de fatores pode explicar essa condição rara. Um dos mais significativos é que, após a 2ª Guerra, o preço da borracha caiu ano após ano, até que no final da década de 60 e na de 70 grande parte dos seringais foi vendida a grupos agropecuários do sul. As fazendas que se instalaram nos altos rios fracassaram. A guerra aos povos isolados termina por falta de financiamento: ninguém fornecia armas nem pagava nada para se matar índios.

Livres das ameaças, eles iniciam a retomada dos territórios. Mas encontram, fixados neles pelas empresas seringalistas, índios que usam roupa, espingarda e moram em casas como os antigos invasores brancos.

Os conflitos entre eles se acirraram em 86 e 87. O fato gerou reivindicação dos caxinauás, do Rio Jordão, e ashanincas, do Envira, à Funai para a criação de uma frente de atração visando a "amansar os brabos" e pôr fim aos conflitos. Em 1988 a Funai criou o Departamento de Índios Isolados, que traçou uma política para esses povos. Essa política se resume a protegê-los em seus territórios, sem nenhum contato. Foi criada a Frente de Atração Rio Jordão - renomeada Frente de Contato Envira e, a partir de 1997, Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira - para pôr fim aos conflitos envolvendo povos isolados e os índios caxinauás, madijás, ashanincas e brancos do entorno. Os atritos foram controlados quando os ashanincas, culinas e caxinauás entenderam que os "parentes brabos" tinham o direito de continuar isolados.

A inovação da nova política indigenista dá-se em função de a Funai regularizar terras para os povos isolados sem contatá-los. Nas cabeceiras do Envira e do Tarauacá existem três terras indígenas para povos isolados: Kampa e Isolados do Envira, Alto Tarauacá e Riozinho do Alto Envira, todas demarcadas e regularizadas, somando 638.384 hectares.

Acompanhei por 22 anos a política de proteção a esses povos e posso dizer que, no mínimo, sua população dobrou. Estão sadios, com os territórios preservados e grandes roçados. Trocaram o machado de pedra, o facão de pupunha e a panela de barro por machado de ferro, facão de ferro e panela de alumínio. Querem algumas de nossas tecnologias, mas se recusam, sabiamente, a ter contato conosco desde o início do século 20, quando viram os primeiros seringueiros.

Infelizmente, nos últimos anos, a Amazônia peruana nas cabeceiras dos Rios Madeira, Purus e Juruá vem sofrendo um processo brutal de ocupação desordenada e ilegal com extração de madeira nobre, garimpo, exploração de petróleo e plantio e refino de coca, todas essas atividades também em terras de índios isolados, existentes no Peru.

Essa ocupação desordenada tem provocado a migração de grupos isolados do Peru para o território brasileiro. A fronteira entre os dois países nada significa para eles. Mas as fronteiras entre eles existem e são por eles reconhecidas. Com certeza um novo reordenamento territorial deve estar ocorrendo. Pacifica ou belicosamente.

Toda a interferência, medo e espanto que os sobrevoos devem ter provocado nos isolados sejam a mim creditados. A iniciativa de mostrar imagens desses povos ao mundo foi na tentativa de sensibilizar a opinião pública para o fato de que eles existem e que o seu futuro, como os últimos povos livres deste planeta, depende de nós. A velha máxima amazônica ainda é bem atual: "Índio brabo que ninguém vê é boato"."

Filmagem dos isolados do Alto Envira, da BBC / Survival International (ou: o aparelho de captura se esticando...)


"Após três anos, desmatamento volta a crescer"

Também na F.S.P.:
"O desmatamento na Amazônia cresceu 10% entre agosto e dezembro de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009.
Os dados foram divulgados na terça pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com base em imagens de satélite do sistema Deter, que flagra o desmatamento em tempo real. É a primeira vez desde o fim de 2007 que uma série parcial de dados do Deter indica subida no corte raso na floresta.
Foram 1.236 quilômetros quadrados desmatados entre agosto e dezembro de 2010, contra 1.145 quilômetros quadrados no período anterior. "Isso mostra que eles continuam cortando. Não tem como relaxar ou parar de fiscalizar", disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.
Ele afirma, porém, que não é possível falar de reversão da tendência de queda.
O ano, excepcionalmente seco, com poucas nuvens, também permitiu enxergar desmatamentos mesmo durante a estação chuvosa, que começa em novembro.
O atual inverno amazônico está bastante chuvoso -em dezembro, por exemplo, só foi possível observar 28% da região, área que estava livre de nuvens.
Uma nova fronteira de devastação se consolida: o triângulo formado pelo sul do Amazonas, sob influência da rodovia BR-319, o norte de Rondônia e o leste do Acre."

"Amazônia teve pior seca em cem anos"

Saiu na F.S.P:

"Árvores mortas pela seca de 2010 podem liberar quantidade de CO2 semelhante às emissões dos EUA, diz estudo

Até agora, seca de 2005 tinha sido a pior; se mal interpretados, dados estimulam o desmate, diz cientista do Inpe

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A seca de 2010 da Amazônia foi a pior dos últimos cem anos. E a quantidade de CO2 emitido pelas árvores mortas pode ser parecida com as emissões dos EUA.

As constatações são de estudiosos britânicos (da Universidade de Leeds) e brasileiros, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Eles publicaram um artigo na revista "Science".

O grupo de pesquisadores, liderado pelo britânico Simon Lewis, mostrou que a seca de 2010 foi mais intensa e afetou uma área maior que a estiagem de 2005 -até então considerada recorde em várias décadas.

No ano passado, uma área de 3 milhões km2 foi atingida pela estiagem, contra 1,9 milhão km2 em 2005.
Os cientistas fizeram um cálculo do desvio da média de chuvas comuns nas estações secas da Amazônia (chamado de desvio padrão).

"A intensidade da seca foi maior em 2010 em relação à média", explica o biólogo Paulo Brando, do Ipam, um dos autores do trabalho.

A segunda parte do estudo, explica ele, verificou quais as consequências dessa seca do ponto de vista dos estoques de carbono. Aí vem a outra má notícia: com as secas, a floresta emitirá mais CO2 do que absorverá.
Os pesquisadores relacionaram os dados de seca de 2010 com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).

A conclusão foi que a seca do ano passado pode emitir 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2010 e nos próximos anos. Isso não acontece de uma vez, já que a decomposição das árvores mortas é um processo lento.
Para se ter uma ideia do que isso significa: a emissão da queima de combustíveis fósseis dos EUA é de 5,4 bilhões de toneladas por ano. Em condições "normais", estima-se que a Amazônia absorva 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera.

"A seca de 2010 talvez tenha matado as árvores que já estavam vulneráveis por causa de 2005", explica Brando.
"Pode ser que a floresta se recupere, mas ainda não fomos para campo medir. Ainda temos muito trabalho de campo pela frente", diz.

Para o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é preciso analisar os dados com cuidado.

"Reduzimos o desmatamento em cinco anos, mas um fenômeno natural deixou nossa absorção de CO2 na estaca zero. Se esses cálculos não forem bem interpretados, poderão ser usados a favor do desmatamento", diz.
Marengo e sua equipe já mostraram que a seca de 2010 reduziu mais os níveis dos rios amazônicos que a estiagem anterior, de 2005.""

"Novas fotos inéditas dos índios isolados do Acre"

Do Blog da Amazônia, do Altino Machado
Índios isolados observam o avião

"Índios isolados observam avião sobrevoando maloca

A Survival International divulgou nesta segunda-feira (31) novas fotos de índios isolados que vivem no Acre, perto da fronteira com o Peru. As fotos foram tiradas pela Fundação Nacional do Indio (Funai), que autorizou a organização, sediada em Londres, a utilizá-las como parte de sua campanha para proteger o território dos índios isolados.

As fotos mostram os índios em detalhe nunca visto antes e revelam uma comunidade próspera e saudável com cestos cheios de mandioca e mamão fresco cultivados em suas roças. Alguns isolados aparecem nas fotos com roupas e utensílios furtados das casas de brancos e índios da região. Os isoalados poderão ser vistos no episódio Jungles, do programa Human Planet, da BBC1, na quinta-feira (3).

Leia mais:

Índios isolados são fotografados pela 1ª vez no AC

Como sertanista matou índio isolado em situação “dramática”

Exploração de petróleo e madeira ameaça índios isolados na fronteira

A Survival alerta que a sobrevivência da tribo está em sério perigo por causa da entrada de madeireiros ilegais que estão invadindo o território dos índios isolados no lado peruano da fronteira.

As autoridades brasileiras acreditam que o influxo de madeireiros está empurrando índios isolados do Peru para o Brasil, e é provável que os dois grupos entrarão em conflito.

A Survival e outras ONGs há anos fazem campanha para que o governo peruano aja de forma decisiva para impedir a invasão, mas pouco tem sido feito.

No ano passado, uma organização dos EUA, Upper Amazon Conservancy, realizou o último de vários sobrevôos do lado do Peru, revelando mais evidências de extração ilegal de madeira em uma área protegida.

- É necessário reafirmar que esses povos existem e para isso apoiamos a divulgação de imagens que comprovam estes fatos. Esses povos têm tido seus direitos mais elementares, sobretudo à vida, ignorados… Portanto devemos protegê-los - afirmou Marcos Apurinã à Survival.

O líder indígena Davi Kopenawa Yanomami, também apoia a divulgação das imagens:

- Tem que cuidar e proteger o lugar onde os índios moram, pescam, caçam e plantam. Por isso é útil mostrar as imagens dos isolados, para o mundo inteiro saber que eles estão lá na floresta deles e que as autoridades devem respeitar o direito deles de morar lá.

O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, da Funai, explicou que são os povos isolados são “meio desconhecidos”.

- É difícil convencer até o próprio estado que eles existem. A partir disso, você demarcar um território maior para eles já é uma dificuldade. É um desafio porque você vai mexer com um monte de interesses. É o segundo desafio é manter realmente essa terra isenta de interferência externa - assinalou Meirelles."

Fotos: Gleison Miranda/Funai/Survival

El sueño del celta de Mario Vargas Llosa

El-Sueno-del-Celta-Vargas-Llosa-Mario-9781616052461.jpg

Hoje eu acabei de ler o livro que deu o Nobel de literatura a Vargas Llosa, El Sueño del Celta.
O livro conta a história de Roger Casement (1864-1916), que, dentre outras coisas, foi cônsul britânico no Congo Belga e relator do grupo que investigou os abusos cometidos pelos funcionários da Peruvian Amazon Company na região do rio Putumayo, na fronteira entre Peru e Colômbia.
Escrito em uma prosa simples, o livro relata as aventuras desse irlandês muito louco, desde sua ida para o Congo, onde começa sua luta contra os horrores da colonização, até a sua morte por enforcamento, depois da tentativa frustrada de conduzir um levante anticolonialista na Irlanda, em 1916.
O principal assunto do livro é a descoberta feita por Casement dos verdadeiros efeitos da colonização, apesar dos discursos que a justificavam como o trabalho de levar a civilização e a fé cristã para os selvagens. O texto é estruturado em duas linhas narrativas principais que se sobrepõem: os capítulos ímpares relatam os últimos dias de Casement na prisão, onde ele esperava ansioso saber qual fora a decisão da suprema corte britânica acerca do pedido de clemência contra sua execução por enforcamento. Os capítulos pares narram a memória de Casement de suas viagens, dando ênfase aos seus trabalhos como cônsul no Congo, quando decide escrever um relatório denunciando as práticas de tortura empregadas pela Force Publique contra os nativos do vale do rio Congo. Narram também as suas duas viagens à Amazônia peruana, quando conduziu uma investigação a pedido do Foreign Office britânico para apurar as denúncias segundo as quais a empresa de Júlio César Arana empregava formas extremas de violência contra os indígenas, para obriga-los a trabalhar na extração da borracha e do caucho.
Ao longo das viagens narradas nos capítulos pares, Casement, então funcionário do governo britânico, se descobre um nacionalista e anticolonialista irlandês, e põe-se então a colaborar com a organização de um levante pela independência de sua terra natal.
O livro é bem irregular, tendo algumas partes boas e outras meio sem graça. A construção dos personagens é um pouco superficial, e alguns diálogos são meio inocentes. Ao buscar o ponto de vista dramático de um Casement romanceado, Vargas Llosa termina por transpor toda a radical experiência do irlandês para uma interioridade problemática e culpada. Os acontecimentos testemunhados e os horrores da colonização são assim eclipsados pelos dramas íntimos de Casement. Dessa forma, a narrativa de Vargas Llosa dilui o impacto da experiência de Casement, um pouco como faz o cinema americano, ao tratar toda história como drama íntimo e familiar de um grupo pequeno de personagens. Valeria a pena comparar a apropriação da figura de Casement realizada por El Sueño del Celta com aquela radicalmente diferente, e antropologicamente subversiva, realizada por Michael Taussig.
Mesmo assim, pode-se vislumbrar no livro algo da violenta história da colonização mercantil da África e da Amazônia. Interessante também ver como já há muito tempo o lobby humanitário e a propaganda tem certo poder na Europa, desde muito antes do surgimento das grandes ONGs...
De qualquer forma, vale a leitura (sempre vale alguma coisa...).
Para baixar (via: http://library.nu/): http://megaupload.com/?d=6MUEU7UE (senha pra descompactar: ebooksclub.org).

Nas Terras do Bem-Virá

bemvira.jpg
"Por trás dos grandes empreendimentos estatais e particulares, milhões de pessoas (sub) existem, dependendo destes para continuar sobrevivendo. O filme nos conta a trajetória de garimpeiros, peões de trecho, carvoeiros, sem-terra, índios, posseiros e tantos outros personagens brasileiros. A partir das histórias desses brasileiros, a História da Amazônia nos é contada, através dos conflitos e das inúmeras violências sofridas por essa população. Da transamazônica e da propaganda do governo da ditadura até o assassinato da Irmã Dorothy, o documentário nos revela muitas das questões que estão por trás do modelo de desenvolvimento adotado no país".

Para baixar: http://www.megaupload.com/?d=8LA270Y0 (via http://acervonacional.blogspot.com/)