El sueño del celta de Mario Vargas Llosa

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Hoje eu acabei de ler o livro que deu o Nobel de literatura a Vargas Llosa, El Sueño del Celta.
O livro conta a história de Roger Casement (1864-1916), que, dentre outras coisas, foi cônsul britânico no Congo Belga e relator do grupo que investigou os abusos cometidos pelos funcionários da Peruvian Amazon Company na região do rio Putumayo, na fronteira entre Peru e Colômbia.
Escrito em uma prosa simples, o livro relata as aventuras desse irlandês muito louco, desde sua ida para o Congo, onde começa sua luta contra os horrores da colonização, até a sua morte por enforcamento, depois da tentativa frustrada de conduzir um levante anticolonialista na Irlanda, em 1916.
O principal assunto do livro é a descoberta feita por Casement dos verdadeiros efeitos da colonização, apesar dos discursos que a justificavam como o trabalho de levar a civilização e a fé cristã para os selvagens. O texto é estruturado em duas linhas narrativas principais que se sobrepõem: os capítulos ímpares relatam os últimos dias de Casement na prisão, onde ele esperava ansioso saber qual fora a decisão da suprema corte britânica acerca do pedido de clemência contra sua execução por enforcamento. Os capítulos pares narram a memória de Casement de suas viagens, dando ênfase aos seus trabalhos como cônsul no Congo, quando decide escrever um relatório denunciando as práticas de tortura empregadas pela Force Publique contra os nativos do vale do rio Congo. Narram também as suas duas viagens à Amazônia peruana, quando conduziu uma investigação a pedido do Foreign Office britânico para apurar as denúncias segundo as quais a empresa de Júlio César Arana empregava formas extremas de violência contra os indígenas, para obriga-los a trabalhar na extração da borracha e do caucho.
Ao longo das viagens narradas nos capítulos pares, Casement, então funcionário do governo britânico, se descobre um nacionalista e anticolonialista irlandês, e põe-se então a colaborar com a organização de um levante pela independência de sua terra natal.
O livro é bem irregular, tendo algumas partes boas e outras meio sem graça. A construção dos personagens é um pouco superficial, e alguns diálogos são meio inocentes. Ao buscar o ponto de vista dramático de um Casement romanceado, Vargas Llosa termina por transpor toda a radical experiência do irlandês para uma interioridade problemática e culpada. Os acontecimentos testemunhados e os horrores da colonização são assim eclipsados pelos dramas íntimos de Casement. Dessa forma, a narrativa de Vargas Llosa dilui o impacto da experiência de Casement, um pouco como faz o cinema americano, ao tratar toda história como drama íntimo e familiar de um grupo pequeno de personagens. Valeria a pena comparar a apropriação da figura de Casement realizada por El Sueño del Celta com aquela radicalmente diferente, e antropologicamente subversiva, realizada por Michael Taussig.
Mesmo assim, pode-se vislumbrar no livro algo da violenta história da colonização mercantil da África e da Amazônia. Interessante também ver como já há muito tempo o lobby humanitário e a propaganda tem certo poder na Europa, desde muito antes do surgimento das grandes ONGs...
De qualquer forma, vale a leitura (sempre vale alguma coisa...).
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